Temor de Desempenho
Na semana passada, o velocista Asafa Powell bateu o seu próprio recorde mundial. Com um desempenho memorável, correndo 100 metros em 9 segundos e 74 centésimos.
Esse recorde, entretanto, foi batido numa prova secundária, sem muita importância.
Aliás, o mais intrigante é que, em provas de nível elevado, Powell não tem conseguido mais do que o segundo lugar.
O que explicaria o fato de um profissional tecnicamente preparado conseguir um excelente desempenho quando não seria tão necessário; e não conseguir esse mesmo desempenho quando seria realmente preciso?
Essa pergunta tem sido feita por atletas de várias modalidades desportivas; por executivos que precisam apresentar elevado desempenho nas suas empresas e por pessoas comuns que precisariam se destacar.
O temor do desempenho
Apresentar um bom rendimento em reuniões de pouca importância ou num simulado de prova de concurso, mas não conseguir o mesmo em situações nas quais esse rendimento seria extremamente requerido me faz lembrar de um conceito amplamente utilizado na prática da psicologia clínica, o “temor de desempenho”.
Dessa forma, esse conceito faz menção às situações nas quais a pessoa precisa apresentar um bom desempenho
Assim sendo, ela sabe dessa necessidade, mas parece ter um desempenho cada vez pior diante de situações similares.
O problema não pára por aí. Várias dessas pessoas relatam, antes da situação na qual precisariam apresentar o bom rendimento: insônia; taquicardia; sudorese; tremores; ansiedade generalizada; irritação; dificuldade de concentração, dentre outros.
Eu recebo, no meu consultório, várias pessoas com o que estamos chamando de “temor de desempenho”. Seja na área profissional, na área acadêmica ou na área pessoal.
Posso afirmar, de acordo com vários estudos na área de ansiedade, que esse fenômeno não é novo, não é incomum e nem tender a deixar de existir.
Embora “temor de desempenho” resuma aquilo que a pessoa pensa ou sente e como isso interfere na sua performance diante de certos contextos, o termo não dá conta das particularidades históricas e presentes do indivíduo que mantém o problema.
Em outras palavras, descrever o que a pessoa faz, pensa ou sente diante do “temor de desempenho” não explica porque isso acontece.
Entender a relação que existe entre o problema e o contexto é um grande passo para intervir e gerar mudanças. Entretanto, esse processo pode demandar auxílio profissional.
Caso o velocista Powell tivesse um bom acompanhamento psicológico, acredito realmente que ele teria condição de estender seus recordes às provas de maior relevância.
Inpa – Instituto de Psicologia Aplicada, Asa Sul, Brasília – DF, Brasil