“Mãe, fique comigo!”- Ansiedade de separação na infância

apego maternal
apego maternal

A ansiedade de separação é algo já previsto no desenvolvimento infantil.
Alguns exemplos são quando o bebê chora ao ser retirado do colo da mãe. Ou a reação emocional de crianças pré-escolares no primeiro dia de aula.
A ansiedade, como se vê, se mostra presente desde a infância.
No entanto, quando o medo de separaçao atinge níveis elevados que perturbam a rotina da criança ou de seus familiares pode trazer prejuízos ao desenvolvimento infanto-juvenil.
Através do transtorno de ansiedade de separação.

Transtorno de Ansiedade

De acordo com estudos em populações americanas, os transtornos de ansiedade têm prevalência estimada entre 8 e 12% [1].
Por sua vez, no Brasil, um estudo populacional encontrou índices de prevalência de 4,6% em crianças e 5,8% entre os adolescentes.
Apesar de suas primeiras descrições na literatura datarem do início do século XIX, apenas no início do século seguinte foram descritos os primeiros casos clínicos de ansiedade infantil.
Sigmund Freud relatou um caso de fobia em 1909, conhecido como Pequeno Hans.
Até a década de 80, os manuais de classificação dos transtornos mentais estabeleciam que as manifestações de ansiedade na infância eram transitórias.
A partir de então, as três categorias iniciais desse transtorno foram ampliadas. Existindo na versão mais atualizada do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais- DSM IV cerca de dez tipos.
Dentre eles, apenas o Transtorno de Ansiedade de Separação é definido como exclusivo da infância e adolescência (APA, 2000).

Transtorno de Ansiedade de Separação

Este transtorno é caracterizado pela vivência de ansiedade excessiva em função do afastamento de casa ou de figuras de apego e vínculo.
Cabe destacar que a reação emocional exagerada diante do afastamento dos pais é esperada no desenvolvimento de crianças pré-escolares.
Geralmente, motivada pela insegurança gerada pela ausência dos cuidadores.
A ansiedade de separação e a ansiedade diante de estranhos costumavam ser consideradas como marcos no desenvolvimento emocional e cognitivo.
Da segunda metade da primeira infância (período de 0 a 3 anos de idade), constituindo reflexos do apego à mãe.
Porém, no percurso do desenvolvimento, deve interferir no funcionamento da vida diária do indivíduo. De modo que, haja repercussão negativa também na rotina de cuidadores.
Assim, o DSM-IV estabelece uma série de critérios para o diagnóstico do Transtorno de Ansiedade de Separação.

Sintomas

Dentre os sintomas possíveis estão:
1. Sofrimento excessivo e recorrente diante da ocorrência ou iminência de afastamento;
2. Preocupações persistentes e excessivas acerca de perigos envolvendo os pais ou a si mesmo;
3. Recusa ou resistência a ir desacompanhado para a escola ou outros locais; temor em ficar sozinho em casa;
4. Repetidas queixas de sintomas somáticos quando a separação de figuras importantes de vinculação ocorre ou é prevista;
5. Pesadelos repetidos envolvendo a possibilidade de separação.

Prejuízos e consequências

Outros critérios relevantes são o prejuízo funcional e significativo em áreas da vida da criança.
A duração dos sintomas de pelo menos quatro semanas e que ele não ocorra durante o curso de outros transtornos de comportamento.
Diante da ocorrência ou previsão de afastamento dos pais ou das figuras de vinculação, a criança e o adolescente com este transtorno tendem a apresentar um medo irreal de que algo muito ruim aconteça com eles ou com seus pais que impediria o reencontro com eles.
Ao passo disso, eles tendem a seguir e perseguir os pais; recusam-se a dormir sozinhos ou a saírem de casa desacompanhados.
Não raro, diante da separação ou na antecipação do afastamento, sentem uma saudade sufocante que ocasionam sintomas corporais como dores de cabeça, náuseas e dores estomacais.

A faixa etária que mais sofre com o Transtorno de ansiedade de separação

Este transtorno é mais comum em crianças com idade 7 a 9 anos, havendo diferenças em como expressam os medos.
Por exemplo, crianças com idade entre 5 e 8 anos costumam preocupar-se e terem pensamentos trágicos sobre os pais.
Ao passo que protestos, acessos de raiva, apatia e desconcentração são mais comuns em púberes de 9 a 12 anos.
Por sua vez, sintomas psicossomáticos e recursa escolar são manifestados em adolescentes. Cabe destacar que não há distinção entre os sintomas de acordo com o sexo.
Cada caso deve ser avaliado individualmente. Contudo, alguns fatores são relatados na literatura, como mudanças de escola ou domicílio, doença de algum membro familiar ou separação conjugal.
Aliás, com o medo de afastar-se dos familiares, crianças e adolescentes podem perder oportunidades de contato social.
Assim sendo, pode prejudicar a socialização dos mesmos, uma vez que preocupados consigo e com os outros, poderão não se envolver em atividades ou serem alvos de fofocas ou chacotas sociais.
Ademais, essa ansiedade também pode perturbar a rotina laboral dos pais, que tenderão a receber inúmeros telefonemas, checando onde estão e solicitando que estes vão resgatá-los.
Diante deste panorama, é necessária uma avaliação criteriosa. Os comportamentos, por mais disfuncionais que pareçam, são mantidos pelas suas consequências no ambiente.
No caso da ansiedade, tendemos a fugir ou evitar o contato com os estímulos que causam temor.
Além disso, se com isso evitam que os pais saiam de perto delas, ou se esquivam de responsabilidades como a escola ou de se exporem a situações sociais, tais consequências fortalecem o comportamento ansioso.

Algumas recomendações são válidas para prevenir o transtorno de ansiedade de separação:

  • Desde cedo, diante dos afastamentos dos pais, estes devem sinalizar para onde irão e quando devem retornar, porém, com uma certa “margem de erro”.
  • Recomenda-se que a despedida seja algo natural.
  • Alguns pais, em momentos de irritação, podem ameaçar o abandono do lar diante do comportamento inadequado da criança visando a diminuição da frequência deste. Em brigas conjugais, esta fala também é comum. Diante de crianças ansiosas, então, não se recomenda este tipo de verbalização, pois ela provoca ansiedade e deixa a criança alerta quanto à possibilidade deste perigo.
  • Elimine estímulos ambientais que possam remeter aos perigos sociais: evite assistir jornais diante dos filhos, supervisione o que estes estão vendo na internet e também os assuntos das rodas de amigos.
  • Trate de segurança, mas sem apavorar os filhos.  Se você tem medo e se sente inseguro quando sai de casa, tente não verbalizar suas fragilidades diante dos filhos. Procure ajuda, mas com outras pessoas.
  • Incentive o brincar, o contato com os colegas e o lazer.
  • Diante do medo da criança ou adolescente, jamais afirme a sua invulnerabilidade a eventos como doença, morte ou mazelas sociais, apenas mude o foco, apontando as evidências que não favorecem o perigo.

Por fim, é importante perceber que o risco é inerente à vida. O ser humano é vulnerável e a vida é finita.
Entretanto, tais preocupações na infância e adolescência acaba reduzindo o brilho da vida que se vê com mais clareza apenas nesta fase da vida.
Assim sendo, para evitar que esta ansiedade prejudique a adaptação da criança no ambiente ou evolua para outro transtorno de ansiedade procure um profissional de sua confiança.

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