A ejaculação retardada (ER) — em inglês, delayed ejaculation e formalmente classificada no DSM-5 (código 302.74) — é um padrão persistente e clinicamente significativo de atraso acentuado, infrequência marcada ou ausência de ejaculação, apesar de estimulação sexual adequada e desejo genuíno de ejacular (APA,2024; Meston & Stanton, n.d.).
De acordo com o DSM-5 (APA, 2014), para fins de diagnóstico, essa dificuldade deve ocorrer em aproximadamente 75–100% das ocasiões de atividade sexual, persistir por pelo menos 6 meses, e causar sofrimento clinicamente significativo ao indivíduo — sem que possa ser melhor explicada por uma condição não sexual, medicação ou problemas relacionais.
O que é crucial entender é que esse quadro se associa consistentemente a insatisfação sexual relevante, tanto para o homem quanto para a parceira, e tende a incrementar significativamente a ansiedade de desempenho e a frustração, além de sintomas depressivos (Jenkins & Mulhall, 2015; Negri et al., 2025).
Imagine correr uma maratona exaustiva, avistar a linha de chegada, mas sentir que, por mais que você acelere, a faixa final se afasta cada vez mais de você.
É exatamente assim que meus pacientes descrevem a ejaculação retardada: uma corrida em direção ao prazer que termina em exaustão física, frustração mental e, muitas vezes, em um pedido de desculpas constrangedor para a parceira.
Eu entendo perfeitamente que, para quem olha de fora (ou ouve conversas superficiais entre homens), “durar muito” parece um superpoder; mas eu e você sabemos que, na realidade clínica, isso é uma prisão silenciosa que te corrói na intimidade.
Se você se sente isolado nessa luta, saiba que este não é um problema de “falta de virilidade”, mas um mecanismo complexo que envolve neurobiologia e condicionamento.
Neste guia definitivo, eu vou te explicar exatamente por que você não consegue ejacular e como retomar o controle da sua satisfação sexual.
Neste artigo, você vai ler:
O Que É Exatamente a Ejaculação Retardada?
Antes de falarmos sobre tratamento, precisamos limpar o terreno e definir o que estamos enfrentando.
Tecnicamente, retomando o que apresentei acima, a ejaculação retardada é caracterizada por um atraso persistente ou recorrente, ou pela ausência total de orgasmo e ejaculação, mesmo quando há excitação sexual adequada e estimulação genital suficiente.
Sinônimos dessa disfunção podem ser: ejaculação inibida, ejaculação atrasada, atraso no orgasmo ou anorgasmia. É uma das disfunções sexuais masculinas, cada vez mais comuns e que já conta com uma boa compreensão quanto às suas causas, bem como consequências.
Não estamos falando daquele dia em que você estava cansado ou bebeu demais e demorou um pouco mais para chegar lá.
Estamos falando de um padrão que gera sofrimento clínico significativo e que pode afetar drasticamente a qualidade do relacionamento conjugal, pois tende a gerar questionamentos e desconfiança.
No meu consultório, percebo que muitos homens confundem controle ejaculatório (que é saudável) com a incapacidade de atingir o clímax (que é disfuncional). As diferenças estão exatamente na capacidade de controle e no produto emocional.
Na primeira situação, o homem define o momento em que deseja gozar, prologando intencionalmente o tempo de prazer na relação para si e para a companheira. Com isso, ele se sente bem emocionalmente e experimenta a ideia de ser poderoso.
Já na segunda situação, por mais que tente, o homem é vencido pela persistente dificuldade ou impossibilidade de chegar ao orgasmo. Aqui, ele se sente incapaz, se culpa e se frustra, experimentando sofrimento emocional significativo.
Se o ato sexual se torna um “trabalho braçal”, onde você transpira, se esforça e “luta” para conseguir o que deveria ser natural, o sinal de alerta está ligado.
Muitas vezes, esse quadro é rotulado erroneamente apenas como “demora”. Contudo, a definição na área da Saúde vai além do relógio: trata-se da desconexão entre o estímulo físico e a resposta neurológica de prazer.
É como se o “software” do seu cérebro não conseguisse enviar o comando final de disparo para o “hardware” do seu corpo, deixando você preso em um platô de excitação que nunca se resolve.
Teste: Avalie o Seu Grau de Dificuldade para Ejacular (adaptação de MSHQ-EjD)
Muitos homens chegam ao meu consultório com a dúvida: “Fábio, isso é apenas uma fase ou eu realmente tenho uma disfunção?”. Para te dar um norte, adaptei abaixo algumas questões do MSHQ-EjD ⎼ Male Sexual Health Questionnaire (Rosen et al., 2007), uma das ferramentas mais respeitadas internacionalmente para avaliação da função ejaculatória.
Instruções: Responda com honestidade, tendo como base os últimos 30 dias de atividade sexual. Use a escala de 1 a 5 onde indicado. Some os pontos e confira o resultado ao final.
QUESTÃO 1: Frequência de Ejaculação
Com que frequência você conseguiu ejacular durante a atividade sexual com sua parceira?
( ) 1 = Quase nunca
( ) 2 = Poucas vezes
( ) 3 = Número razoável de vezes
( ) 4 = A maioria das vezes
( ) 5 = Quase sempre
QUESTÃO 2: Grau de Esforço para Ejacular
Qual foi o seu grau de dificuldade ou esforço necessário para ejacular durante a relação sexual?
( ) 1 = Muito difícil/Esforço extremo
( ) 2 = Difícil/Esforço considerável
( ) 3 = Moderadamente difícil
( ) 4 = Pouco difícil/Esforço mínimo
( ) 5 = Não é difícil/Sem esforço excessivo
QUESTÃO 3: Discrepância Masturbação vs. Sexo com Parceira
Comparando masturbação com sexo com sua parceira, como você avalia sua facilidade para ejacular?
( ) 1 = Muito mais fácil só na masturbação; com parceira é muito difícil ou impossível
( ) 2 = Mais fácil na masturbação que com parceira
( ) 3 = Igualmente fácil ou difícil nos dois contextos
( ) 4 = Pouco mais fácil na masturbação que com parceira
( ) 5 = Igualmente fácil em ambos os contextos
QUESTÃO 4: Incômodo/Preocupação
Quanto essa dificuldade de ejacular o incomoda ou afeta seu bem-estar emocional e relacional?
( ) 5 = Nada incomodado
( ) 4 = Um pouco incomodado
( ) 3 = Moderadamente incomodado
( ) 2 = Muito incomodado
( ) 1 = Extremamente incomodado
Sistema de Pontuação
Escore Total (4 itens): Intervalo de 4 a 20 pontos
| Escore | Interpretação |
|---|---|
| 4-8 | Ejaculação Retardada severa |
| 9-12 | Ejaculação Retardada moderada |
| 13-16 | Ejaculação Retardada leve |
| 17-20 | Função normal |
Nota do autor: Esse instrumento é meramente educativo. Não serve como diagnóstico definitivo na área da saúde, mas o resultado pode ser útil para sinalizar a necessidade de se buscar ajuda. Na dúvida, busque um terapeuta sexual.
As Raízes do Problema: Por Que Não Consigo Ejacular?
Para tratarmos a ejaculação retardada com a seriedade que ela exige, precisamos investigar obras e periódicos científicos nas áreas da Medicina e da Psicologia.
A literatura científica costuma agrupar as causas da dificuldade ou incapacidade de ejacular em dois grandes eixos: fatores orgânicos e fatores psicogênicos.
Embora, na prática clínica, eu observe que a maioria dos casos tenha origem predominantemente psicológica, seria um erro reduzir o problema apenas a esse aspecto.
A ejaculação retardada envolve a interação de múltiplos sistemas — neurológico, hormonal, vascular e psíquico — que precisam funcionar de forma integrada.
Trata-se, portanto, de um processo psicofisiológico complexo: qualquer desajuste ao longo dessa cadeia de comunicação pode comprometer o desfecho final.
A seguir, apresento o que a ciência atual descreve sobre cada uma dessas dimensões etiológicas.
1. Etiologia Orgânica: Quando o Corpo Impede a Ejaculação
Não é apenas “coisa da sua cabeça”. Existem condições médicas que danificam a via neural, resultando na ejaculação retardada.
E vários estudos indicam que as causas orgânicas são predominantes nos casos de Ejaculação Retardada adquirida, isto é, o homem ejaculava normalmente e parou de conseguir.
A. Fatores Farmacológicos (Iatrogenia)
Esta é a causa orgânica mais comum identificada em estudos clínicos.
ISRSs (Antidepressivos): Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (como Paroxetina, Fluoxetina, Sertralina) aumentam a disponibilidade de serotonina na fenda sináptica. Isso é excelente para a depressão, mas “superativa” o freio ejaculatório.
Antipsicóticos: Muitos bloqueiam os receptores de Dopamina, removendo o “acelerador” necessário para o orgasmo.
Anti-hipertensivos: Betabloqueadores e diuréticos tiazídicos podem interferir no sistema nervoso simpático, necessário para a fase de emissão da ejaculação.
B. Fatores Neurológicos
Qualquer dano na via nervosa que conecta os genitais aos centros reflexos (L1-L2 e S2-S4 na medula espinhal) pode causar Ejaculação Retardada.
Neuropatia Periférica: Comum em Diabetes Mellitus avançado. Há uma perda progressiva da sensibilidade penileana (nervo dorsal do pênis).
Lesões Medulares: Esclerose Múltipla ou traumas na coluna podem preservar a ereção mas interromper o sinal ejaculatório.
C. Fatores Endócrinos
Hipogonadismo: Níveis baixos de Testosterona não causam Ejaculação Retardada diretamente em todos os homens, mas reduzem a libido e a sensibilidade genital, dificultando atingir o limiar de excitação.
Hiperprolactinemia: O excesso de prolactina suprime a dopamina, inibindo diretamente o desejo e o orgasmo.
Hipotireoidismo: Associado à fadiga e redução da resposta sexual global.
D. Envelhecimento
Estudos mostram uma correlação linear entre idade e latência ejaculatória. Com o envelhecimento, há uma dessensibilização natural dos receptores penianos, exigindo estímulos mais fortes e prolongados.
2. Etiologia Psicológica: Quando a Mente Freia a Ejaculação
A. Estilo Masturbatório Idiossincrático (Condicionamento Operante)
Esta é uma das descobertas mais relevantes da sexologia moderna.
Muitos homens desenvolvem, ao longo de anos, um padrão de masturbação muito específico que difere drasticamente da sensação do coito vaginal, anal ou oral.
O Mecanismo: O homem se condiciona a ejacular apenas com alta velocidade, pressão excessiva da mão ou texturas específicas (lençóis, roupas).
A Consequência: A vagina ou a boca da parceria não conseguem replicar essa fricção específica.
O cérebro, condicionado àquele estímulo “supernormal”, não reconhece o sexo com parceria como estimulante o suficiente para disparar o reflexo.
B. Ansiedade de Desempenho e “Spectatoring”
Esse é o conceito clássico dos sexólogos e terapeutas sexuais Masters e Johnson, validado pela Terapia Cognitivo-Comportamental.
O homem adota uma postura de auto-observação (“Será que vou conseguir hoje?”, “Está demorando muito, ela(e) vai cansar”).
Esse monitoramento cognitivo gera ansiedade. A ansiedade eleva a adrenalina de forma errática e retira o foco das sensações prazerosas necessárias para somar a excitação até o limiar do orgasmo. Torna-se uma profecia autorrealizável.
C. Fatores Cognitivos e Emocionais
Hostilidade Inconsciente: A retenção da ejaculação pode ser interpretada, em alguns contextos, como uma recusa em “dar” algo à parceria, fruto de conflitos não resolvidos.
Trago a você esse achado da literatura, mas devo salientar que não evidências científicas quanto a essa etiologia do inconsciente.
Medo de Gravidez ou Infecção Sexualmente Transmissível: Um medo profundo, mesmo que irracional, pode ativar mecanismos inibitórios autônomos.
Disparidade de Desejo: Quando o homem faz sexo sem desejo genuíno, apenas para satisfazer a parceria, a excitação física pode ocorrer (ereção), mas a excitação central (cérebro) é insuficiente para o orgasmo.
Como Diferenciar Se a Sua Ejaculação Retardada é de Causa Orgânica ou Psicológica?
Esta é a encruzilhada mais importante do diagnóstico. O seu “freio de mão” está puxado por uma questão orgânica ou mental? Embora na prática clínica os dois frequentemente se misturem, existem sinais claros que nos ajudam a diferenciar a origem.
Analise os dois cenários abaixo e veja em qual você se encaixa melhor:
Cenário A: Sinais de Causa ORGÂNICA
Se o problema estiver na química ou na estrutura do seu corpo, o padrão costuma ser este:
Contexto Global: A dificuldade ocorre em todas as situações (sexo com a parceira, masturbação solitária e sexo oral). Não há exceção.
Início Gradual: Você percebeu que a dificuldade foi piorando lentamente ao longo dos anos (comum em casos ligados a diabetes, neuropatias ou idade avançada).
Qualidade da Ereção: Muitas vezes, a ereção também não é 100% rígida ou é difícil de manter.
Sono: Você raramente ou nunca tem ejaculações noturnas (aquelas que ocorrem durante o sono).
Cenário B: Sinais de Causa PSICOLÓGICA
Se o bloqueio for psicológico, de ordem emocional ou comportamental (o caso da grande maioria que
chega ao meu consultório), o padrão é:
Situacional: Você ejacula rápido ou normalmente na masturbação, mas “trava” na penetração vaginal.
Início Abrupto: O problema começou de repente, talvez após um período de estresse, uma falha anterior ou troca de parceira.
Ereção Plena: Sua ereção é forte, rígida e se mantém por muito tempo, mas o orgasmo simplesmente não vem.
Sono Normal: O corpo funciona perfeitamente quando a consciência está “desligada” (você tem ejaculações noturnas).
Nota do Autor: A literatura científica atual sugere que raramente a Ejaculação Retardada é puramente “física” ou “mental”. Mesmo que comece com o uso de uma medicação (orgânico), o homem pode criar ansiedade sobre a falha (psicogênico), mantendo o problema mesmo após suspender o remédio.
A Queixa “Não Consigo Ejacular” Tem Aumentado. O Que a Ciência Diz?
Se você tem lido matérias jornalísticas apontando que e ejaculação retardada deixou de ser um tabu raro para se tornar uma queixa frequente nos consultórios, saiba que os jornalistas não estão fazendo sensacionalismo.
Estudos epidemiológicos recentes, incluindo grandes análises de bases de dados de saúde, confirmam uma tendência de alta tanto na prevalência quanto na incidência de diagnósticos deste distúrbio.
Mas o que está impulsionando esses números? Não é apenas “estresse”. A literatura científica aponta para uma “tempestade perfeita” composta por três vetores principais:
1. O Custo Farmacológico da Saúde Mental (Fator Iatrogênico)
Vivemos uma era de medicalização necessária, mas que cobra seu preço na função sexual. O aumento expressivo no uso de Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (ISRS) para tratar ansiedade e depressão correlaciona-se diretamente com as taxas de disfunção ejaculatória.
O Mecanismo: A serotonina, ao ser elevada artificialmente para melhorar o humor, inibe o desejo e o reflexo ejaculatório central. Dados mostram que uma parcela significativa dos homens diagnosticados com Ejaculação Retardada estava em uso de antidepressivos no ano anterior ao diagnóstico.
2. A Mudança no Perfil Metabólico e Etário
A população masculina está envelhecendo e, com isso, acumulando comorbidades que afetam a inervação pélvica.
Diabetes e Neuropatia: O aumento da prevalência de diabetes e síndrome metabólica em homens mais jovens tem antecipado quadros de neuropatia periférica — danos nos nervos que diminuem a sensibilidade peniana necessária para o disparo do orgasmo.
A Curva da Idade: A sensibilidade tátil do pênis decai naturalmente com a idade. O aumento da longevidade traz consigo um aumento “moderado mas positivo” na prevalência de ER, pois homens sexualmente ativos na terceira idade precisam de muito mais estímulo físico do que precisavam aos 20 anos.
3. A Síndrome do Punho de Ferro ou Estilo Masturbatório Idiossincrático (Fator Comportamental)
Este é um termo técnico que você precisa conhecer. Estudos em andrologia e psicologia sexual identificaram que práticas masturbatórias “mal adaptativas” são preditores fortes para a Ejaculação Retardada Adquirida.
O Descompasso (Mismatch): Homens que condicionam seu orgasmo a técnicas muito específicas — como alta pressão, velocidade mecânica ou fricção em texturas que não simulam a mucosa vaginal — criam um padrão neural que a relação sexual real não consegue atingir. Isso configura a Síndrome do Punho de Ferro.
A Dissociação Cognitiva: O hábito de se masturbar dissociado da sensação física, focado apenas em fantasias visuais intensas (muitas vezes via telas), gera um hiato entre o que o cérebro vê e o que o corpo sente, dificultando o clímax na presença de uma parceira real.
4. A “Superestimulação” Digital: O Impacto da Pornografia
Aqui reside o fator moderno mais crítico para o aumento das queixas. A onipresença da internet de alta velocidade criou o fenômeno da superestimulação visual, que altera a base de comparação do seu cérebro.
O Mecanismo da Dessensibilização: A pornografia oferece novidade infinita, cortes rápidos e cenários extremos (dopamina em picos altíssimos). O sexo na vida real é mais lento, tem menos cortes e a estimulação visual é constante, não frenética.
A Dissociação: O consumo excessivo treina o seu cérebro a ejacular apenas sob condições de “hiper-estímulo”. Quando você está com uma parceira real, a “voltagem” do estímulo visual cai (é a vida real, não um filme 4K editado), e seu sistema nervoso não reconhece aquilo como gatilho suficiente para o disparo ejaculatório. Você não perdeu a capacidade de sentir prazer, mas elevou o “sarrafo” da excitação para um nível que a realidade biológica dificilmente alcança.
Quais as Consequências da Ejaculação Retardada?
Nós precisamos ter uma conversa franca sobre o custo emocional da ejaculação retardada. O impacto não se restringe ao momento em que a relação termina sem o orgasmo; ele cria um efeito dominó que corrói a saúde mental de ambos os lados da cama.
Como psicólogo clínico, vejo diariamente como esse quadro evolui de um “problema na cama” para uma crise existencial e conjugal. Vamos analisar o que está acontecendo nos bastidores.
1. Consequências para Você: O Ciclo da Evitação Experiencial
A ACT – Terapia da Aceitação e Compromisso chama isso de Esquiva Experiencial. Funciona assim: como o sexo se tornou uma fonte de frustração e trabalho árduo — e não de prazer —, seu cérebro começa a criar mecanismos inconscientes para fugir da relação.
A “Morte” da Libido: Você não perdeu o desejo porque tem um problema hormonal, mas porque sua mente aprendeu que sexo é sinônimo de fracasso. Você começa a evitar a intimidade, vai dormir mais tarde propositalmente ou inventa desculpas de cansaço.
A Exaustão Psíquica: Carregar a culpa de não conseguir ejacular gera uma ruminação mental constante. Você passa o dia ansioso, antecipando o fracasso da noite. Isso drena sua energia vital e produtividade no trabalho.
A Solidão: Você se isola. Sente-se “menos homem” e acredita que ninguém entenderia essa dificuldade, já que o mundo cobra que você “dure muito”.
2. Para Ela: Do Silêncio à Dor Física
Enquanto você se isola na vergonha, a sua parceira está vivendo um luto silencioso. E aqui, faço um apelo à sua responsabilidade: o impacto nela é tanto emocional quanto físico.
O Trauma da Rejeição: A parceira interpreta a ejaculação retardada não como uma disfunção sua, mas como uma rejeição a ela. Ela pensa: “Se eu fosse mais atraente/jovem/sexy, ele conseguiria”. Isso destrói a autoimagem dela.
Dispareunia (Dor Física Real): Vamos à biologia. A lubrificação vaginal natural não foi projetada para durar 40, 60 minutos de fricção contínua. Após certo tempo, o sexo torna-se abrasivo. O que deveria ser amor, vira agressão física ao tecido vaginal, causando dor (dispareunia) e fazendo com que ela também comece a evitar o sexo.
O Resultado do Casal: Forma-se o padrão “Demanda-Retraimento”. Ela cobra intimidade (ou se ressente do afastamento) e você se retrai para não falhar. É a receita perfeita para o fim do relacionamento.
3. Consequências para a Relação: do Afastamento Físico ao Impacto na Fertilidade
A ejaculação retardada não repercute apenas na experiência sexual; ela altera a ecologia emocional do relacionamento. A literatura recente sobre funcionamento conjugal, terapia de casal e sexualidade aponta que a disfunção cria padrões persistentes de insegurança, afastamento físico e erosão da intimidade emocional. Em casos em que o casal deseja engravidar, também pode existir impacto indireto sobre a fertilidade devido à dificuldade de completar a relação sexual com penetração.
Afastamento Físico
Quando o sexo passa a ser associado a frustração, tensão ou dor, os parceiros começam a reduzir espontaneamente toques, carícias e rituais de aproximação.
A conjunção de culpa, ansiedade, silêncio e interpretações distorcidas gera erosão gradual da intimidade emocional. Estudos clínicos mostram que casais que enfrentam disfunções sexuais frequentemente relatam diminuição da empatia, aumento do ressentimento e prejuízo na comunicação emocional, fatores que geram um afastamento entre os cônjuges.
Impactos Relacionados à Fertilidade
Embora a ejaculação retardada não seja, isoladamente, uma causa de infertilidade, ela pode dificultar o coito com penetração até o momento da ejaculação, reduzindo a frequência de relações férteis. Destaco que dificuldades sexuais que impeçam a deposição intravaginal do sêmen constituem uma das causas comportamentais de infertilidade funcional, ainda que os parâmetros biológicos estejam normais (Mazzilli et al., 2020).
Assim, a disfunção pode amplificar o estresse reprodutivo do casal e alimentar um ciclo de cobrança, ansiedade e retraimento — fatores que, por si só, são associados a piores desfechos emocionais e maritais.
Nota do Autor: Entenda que não conseguir ejacular deixou de ser apenas uma questão sobre ter prazer. Agora, é sobre a sua saúde mental e a sobrevivência do seu vínculo afetivo com sua parceira.
O Tratamento da Ejaculação Retardada: 7 Passos Clínicos para Retomar o Controle e o Prazer
Superar a ejaculação retardada exige que você “reinicie o software” sexual do seu cérebro. Se você passou anos condicionando sua mente a responder apenas a estímulos extremos ou ansiosos, levará um tempo para desfazer esse nó. Mas é plenamente possível.
Siga este roteiro terapêutico:
1. O “Check-up” de Eliminação (A Base)
Antes de qualquer exercício mental, precisamos garantir que o terreno biológico está limpo.
Ação: Procure um urologista ou andrologista e solicite um perfil hormonal completo (Testosterona Total e Livre, Prolactina, Tireoide) e um exame de glicemia (Diabetes).
Revisão Farmacológica: Se você toma antidepressivos ISRS, converse com seu psiquiatra sobre a possibilidade de trocar a medicação ou associar outro medicamento, como a Bupropiona, que aja também sobre a depressão e que pode ajudar a reverter o efeito colateral de quem não consegue ejacular.
2. O Detox Dopaminérgico (O Fim do Hiperestímulo)
Se a pornografia faz parte da sua rotina, ela precisa sair agora. Seu cérebro está acostumado com a “comida de fast-food” (vídeos rápidos, múltiplas abas, ângulos irreais) e perdeu o paladar para a “comida caseira” (sexo real).
A Regra: Cortar 100% do consumo de material adulto por, no mínimo, 90 dias. Isso força o seu sistema de recompensa a buscar prazer na realidade, re-sensibilizando seus neuroreceptores.
3. A Ressensibilização da Masturbação (Adeus, Mão de Ferro)
Você precisa reaprender a se tocar. O objetivo aqui é aproximar a sua masturbação da sensação real de uma vagina.
Mude a Pegada: Abandone o aperto forte (Death Grip). Use apenas dois ou três dedos e um toque leve.
Use Lubrificante: Jamais se masturbe a seco. A vagina é úmida. Seu cérebro precisa associar a umidade ao prazer.
Mude a Posição: Se você só goza deitado de bruços ou com as pernas esticadas e tensas, mude. Fique de pé ou deitado de costas, relaxando os músculos das pernas e glúteos.
4. Técnica de Focalização Sensorial (Sensate Focus)
Desenvolvida por Masters e Johnson, esta é a técnica “padrão-ouro” para ansiedade sexual.
Como funciona: Você e sua parceira combinam de ter momentos de intimidade onde a penetração é proibida.
O Objetivo: O foco é apenas trocar carícias, massagens e toques, sem a meta de ejacular. Isso remove a pressão do desempenho. Quando você tira a obrigação de “ter que gozar”, o sistema nervoso parassimpático (do relaxamento) assume, facilitando paradoxalmente a excitação.
5. Mindfulness Sexual (Saindo da Cabeça)
Para combater o Spectatoring (aquela voz que fica narrando o sexo na sua cabeça), você precisa treinar a Atenção Plena.
A Prática: Durante o sexo, quando vier o pensamento “Será que vou demorar?”, gentilmente traga sua atenção de volta para uma sensação física: a temperatura da pele dela, a respiração, o cheiro. Ancore-se no corpo, saia da mente.
6. A Comunicação Assertiva (Quebrando o Silêncio)
Pare de fingir que está tudo bem. A tensão do segredo é um “broxante” natural.
Ação: Tenha uma conversa madura com sua parceira (fora da cama). Explique que você está tratando uma questão de sensibilidade e ansiedade, e que não tem a ver com a atração por ela. Quando ela se torna aliada e para de cobrar (ou se culpar), a sua ansiedade cai pela metade.
7. Terapia Sexual Especializada
Se os passos acima não forem suficientes, é sinal de que você precisa ser guiado no processo para ajustar tecnicamente as intervenções.
O Tratamento: Na terapia sexual conduzida pelos psicólogos do Inpa, investigaremos crenças limitantes sobre sexo, traumas, medo inconsciente de gravidez, hostilidades ocultas no relacionamento, possível vício em pornografia, masturbação excessiva, dentre outros fatores que fazem você “segurar” o orgasmo. Além disso, usamos meticulosamente as técnicas aqui apresentadas e várias outras. O tratamento da ejaculação retardada no consultório é focado, o mais breve possível e tende a ser eficaz.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. A Ejaculação Retardada causa infertilidade?
Diretamente, não; seus espermatozoides podem ser perfeitamente saudáveis. Contudo, ela causa o que chamamos de “infertilidade funcional”. Se você não consegue depositar o sêmen no canal vaginal durante o período fértil da parceira, a concepção natural torna-se impossível. Muitos casais que atendo em tratamentos de fertilidade descobrem que o problema não era biológico, mas sim a dificuldade do homem em finalizar o ato.
2. Existe alguma cirurgia para corrigir a dificuldade de ejacular?
Não. Ao contrário da Ejaculação Precoce (que possui procedimentos experimentais) ou da Disfunção Erétil (que possui próteses), não existe intervenção cirúrgica para “acelerar” a ejaculação. Cuidado com promessas milagrosas. O tratamento padrão-ouro é clínico: psicoterapia sexual, reeducação comportamental e, em alguns casos, ajuste medicamentoso.
3. Posso ter Ejaculação Retardada e Disfunção Erétil ao mesmo tempo?
Sim, e é uma comorbidade frequente. O esforço exaustivo para tentar ejacular (que pode durar 40, 60 minutos) gera fadiga muscular e ansiedade tamanha que o homem acaba perdendo a ereção antes de conseguir o orgasmo. O medo de perder a ereção torna-se mais um bloqueio mental para o relaxamento necessário à ejaculação.
4. O álcool ajuda a "relaxar" e facilita a ejaculação?
Este é um mito perigoso. Embora o álcool desiniba socialmente (reduzindo a ansiedade inicial), ele é um depressor do Sistema Nervoso Central. Em doses médias ou altas, ele entorpece a sensibilidade e retarda a condução nervosa, tornando o orgasmo ainda mais difícil de alcançar. Para quem já tem Ejaculação Retardada, beber é “apagar o fogo com gasolina”.
5. É normal conseguir ejacular no sexo oral, mas não na penetração?
“Normal” não seria a palavra correta; é comum, mas disfuncional. Isso geralmente indica um condicionamento específico (causa psicogênica ou comportamental). A boca oferece uma pressão e sucção que a vagina não replica. Se o seu cérebro só entende esse estímulo como gatilho, ele não dispara o orgasmo na penetração. Isso é tratável com técnicas de ressensibilização.
6. Tenho diabetes. Isso significa que meu caso é irreversível?
De forma alguma. Embora a diabetes possa causar neuropatias que diminuem a sensibilidade, o controle glicêmico rigoroso e o tratamento multidisciplinar podem melhorar muito o quadro. Frequentemente, o componente psicológico (o medo de falhar devido à doença) agrava o componente físico. Tratamos ambos.
7. Como explico para minha parceira que o problema não é a atração por ela?
Adotar a honestidade vulnerável é a única via. Evite frases vagas como “estou cansado”. Explique o mecanismo: “Eu sinto muito desejo por você e minha ereção prova isso. Mas meu reflexo de orgasmo está com uma trava técnica que estou buscando tratar. Não tem a ver com sua beleza, mas com a minha ansiedade/sensibilidade”. Convide-a para ser aliada no processo, não atribua a ele a causa.
Conclusão: O Preço da Espera é a
Desconstrução da Intimidade
Nós percorremos um longo caminho neste guia. Você entendeu que a Ejaculação Retardada não é um “excesso de virilidade”, mas um bloqueio complexo que envolve neurobiologia, hábitos e emoções.
Entendeu também o custo silencioso que isso cobra da sua autoestima e da saúde mental da sua parceira.
Agora, eu falo diretamente com você, de homem para homem e de profissional para paciente:
Entendo perfeitamente que você sinta vergonha e que, talvez, tenha passado anos esperando que isso se resolvesse sozinho, “quando o estresse diminuir”.
Mas a fisiologia não funciona assim. Sem reeducar o seu cérebro e ajustar a sua biologia, a tendência é que o condicionamento se enraíze ainda mais.
Eu te faço um chamado ao seu senso de responsabilidade: não deixe que a frustração na cama se transforme no divórcio na sala.
A sua parceira está esperando uma atitude sua. Você merece viver uma sexualidade fluida, onde o prazer é o foco, e não o esforço.
Não adie a mudança que você já reconheceu ser necessária.
Este conteúdo tem caráter informativo e educativo, não substituindo a consulta ao Terapeuta Sexual. O autodiagnóstico pode ser perigoso.
Sobre o Autor: Fábio Caló, psicólogo
Psicólogo clínico com 27 anos de prática profissional, Mestre em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB) e graduado pelo UniCEUB. É uma autoridade no tratamento de relacionamentos e dependências comportamentais, combinando rigor acadêmico com vasta experiência clínica.
Atuação é fundamentada em duas vertentes principais de alta complexidade:
Terapia de Casal: Utilizando como base a Teoria de John Gottman, referência mundial em estabilidade conjugal.
Consumo Problemático de Pornografia: Desenvolvedor de um protocolo específico e proprietário de intervenção para o tratamento do vício em pornografia, preenchendo uma lacuna crítica no mercado de saúde mental brasileiro.
Além das especialidades centrais, o Dr. Fábio mantém atendimento a demandas psicológicas gerais, consolidando uma trajetória de excelência técnica e resultados clínicos.
Credenciais e Formação:
Mestrado em Psicologia: Universidade de Brasília (UnB).
Graduação: UniCEUB (27 anos de formação).
Especialização Clínica: Terapia de Casal e Protocolo de Intervenção em Pornografia.
Canais Oficiais:
Site Profissional: fabiocalo.com.br
Instagram: @fabiocalo
YouTube: @ofabiocalo
LinkedIn: fabioaugustocalo
Aviso de Propriedade Intelectual: Este material, incluindo o protocolo de intervenção mencionado, artigos e conteúdos clínicos, constitui propriedade intelectual de Fábio Caló. O uso de metodologias proprietárias ou a reprodução de conteúdos sem a devida autorização ou citação está sujeita às sanções legais aplicáveis. ©Copyright 2025. Todos os direitos reservados.
Áreas de Atuação: Psicologia Clínica | Terapia de Casal | Tratamento de Vícios Comportamentais | Saúde Mental
Referências
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