Os 7 Tipos de Amor: Como Identificar Qual Deles Define Seu Relacionamento Hoje?

Se, de fato, é amor, que tipo de amor é esse que sinto? Aliás, quais são os tipos de amor existentes?

Quantas vezes você já se pegou olhando para o seu parceiro — ou para o vazio deixado por alguém — e se perguntou: “Isso que eu sinto é realmente amor, ou é apenas apego, medo ou hábito?”

Eu sei que essas dúvidas podem ser angustiantes. No meu consultório, recebo diariamente pessoas inteligentes e bem-sucedidas que, apesar de dominarem suas profissões e serem líderes de equipes de destaque, sentem-se analfabetas quando o assunto é decifrar o próprio coração. 

A verdade brutal é que fomos ensinados a acreditar em uma versão “hollywoodiana” do afeto, uma narrativa simplista que ignora a complexidade da psique humana.

Entenda: sentir não é simples. O que chamamos genericamente de “amor” é, na verdade, um espectro vasto de emoções que os antigos filósofos já mapeavam com precisão cirúrgica muito antes de a psicologia moderna existir.

Neste artigo, eu convido você a abandonar as definições superficiais. 

Vamos explorar juntos os tipos de amor, conectando a sabedoria milenar da Grécia Antiga com o que há de mais recente na ciência do comportamento, para que você possa, finalmente, entender as suas emoções, diagnosticar a saúde do seu relacionamento e assumir o controle da sua vida afetiva.

A Psicologia do Afeto: Por Que Precisamos, Desesperadamente, Nomear o Que Sentimos?

Pode parecer, à primeira vista, que tentar classificar os tipos de amor, criando categorias, é um ato frio, uma tentativa de racionalizar o irracionalizável. Mas eu preciso que você entenda algo sobre o funcionamento do seu cérebro: o que não tem nome, não tem gestão.

Na Psicologia Comportamental e na Neurociência, estudamos um fenômeno chamado “Affect Labeling” (Rotulagem Afetiva). 

Estudos de imagem cerebral mostram que, quando você consegue atribuir uma palavra específica a uma emoção turbulenta, a atividade da sua amígdala — o centro primitivo do cérebro responsável pelo medo, ansiedade e reações de luta ou fuga — diminui drasticamente. 

Simultaneamente, o córtex pré-frontal ventrolateral — a área do planejamento, da lógica e do autocontrole — é ativado.

Por que estou lhe dizendo isso? Porque a angústia que você sente hoje no seu relacionamento muitas vezes não vem da falta de amor, mas da imprecisão do amor.

A Imprecisão no Uso da Palavra Amor

Nós usamos a palavra “amor” como um termo “guarda-chuva”. Dizemos “eu amo pizza”, “eu amo minha mãe” e “eu amo minha esposa” usando o mesmo verbo para descrever abismos emocionais completamente diferentes. Isso é perigoso.

Quando você diz ao seu parceiro “eu preciso de mais amor”, o que você está pedindo?

  • Você quer mais desejo carnal e intensidade (Eros)?

  • Você quer mais parceria e conversa intelectual (Philia)?

  • Ou você quer mais cuidado, acolhimento e segurança doméstica (Storge)?

Se você não souber especificar qual tipo de amor está em déficit, seu parceiro tentará preencher o vazio com a moeda errada. Ele pode te oferecer segurança (Storge) quando você grita por validação e desejo (Eros). O resultado? 

Você se sente não amada, e ele se sente impotente e desvalorizado.

Entender os tipos de amor não é um exercício acadêmico. É uma ferramenta de sobrevivência conjugal. É sair do analfabetismo emocional e ganhar vocabulário para negociar suas necessidades reais.

Sem isso, estamos apenas duas crianças tateando no escuro, esperando que o outro adivinhe nossas dores.

Pessoa submersa em águas coloridas demonstrando ansiedade, ilustrando a instabilidade de um dos tipos de amor mais intensos, o Eros.

1. Eros (Ἔρως): A Paixão, o Desejo e a Busca pelo que Falta

Se existe um culpado pela maioria das frustrações amorosas que atendo no consultório, esse culpado é a nossa incompreensão sobre o Eros. Nossa cultura moderna, obcecada pelo prazer imediato, reduziu este — que é um dos mais intensos tipos de amor — a uma mera atração sexual ou àquele “frio na barriga” dos primeiros encontros. 

Mas para os gregos, Eros era uma entidade muito mais complexa, poderosa e temível.

Na obra-prima “O Banquete” (Symposium), de Platão, o filósofo não descreve o Eros como um deus belo e perfeito, mas como um daimon (um intermediário) entre a ignorância e a sabedoria, entre o ter e o não ter. 

Segundo o mito narrado por Sócrates (instruído pela sacerdotisa Diotima), o Amor é filho de Poros (Recurso) e Penia (Pobreza).

O que isso significa para o seu relacionamento hoje? Significa que o Eros é o amor da falta. Ele deseja ardentemente aquilo que não possui.

É a força vital que nos impulsiona em direção ao outro, buscando nele a completude que não encontramos em nós mesmos. 

Dos tipos de amor, este é avassalador, criativo e esteticamente sensível. Platão argumentava que o Eros começa pelo amor à beleza física de um corpo, mas deve evoluir — a famosa “Escala de Diotima” — para o amor à beleza das almas, das leis e, finalmente, do conhecimento.

O Perigo da Idealização (A Armadilha de Eros)

Aqui entra o choque de realidade que eu preciso lhe dar como psicólogo: Eros é, por natureza, instável.

Como ele nasce da falta, o que acontece quando ele conquista o objeto de desejo? A tensão diminui. É por isso que muitos relacionamentos entram em colapso entre os 12 e 24 meses (o ciclo biológico da paixão). Quando você finalmente “tem” o outro, o Eros perde seu motor principal: o mistério e a conquista.

  • A Neurociência confirma a Filosofia: O cérebro apaixonado sob efeito de Eros está inundado de dopamina e norepinefrina, criando um estado de euforia e foco obsessivo semelhante ao vício em cocaína. Você não vê a pessoa real; você vê uma projeção das suas próprias necessidades (a Penia, a pobreza interna).

  • O Sintoma Clínico: Se você diz “eu não amo mais meu marido/esposa” apenas porque a eletricidade sexual ou a obsessão do início diminuíram, você está confundindo o fim do Eros com o fim do amor. Você está tentando viver de sobremesa, ignorando o prato principal.

O Eros é a faísca necessária para acender a fogueira, mas ele não é a lenha que mantém o fogo aceso no inverno da vida. Quem tenta construir um casamento baseado apenas em Eros está condenado a viver em uma eterna montanha-russa de êxtase e decepção profunda.

2. Philia (Φιλία): A Conexão da Alma e o Desafio da Igualdade

Enquanto o Eros grita e exige, a Philia conversa e constrói. Se você sente que a paixão diminuiu, mas ainda existe um respeito profundo e uma alegria genuína apenas em estar na presença do outro, você entrou no território sagrado da Philia.

Aristóteles, em sua obra monumental “Ética a Nicômaco” (especificamente nos livros VIII e IX), eleva a amizade a uma categoria central da existência humana. 

Para ele, ninguém escolheria viver sem amigos, mesmo que tivesse todos os outros bens do mundo. Mas cuidado: o filósofo não fala de “coleguismo”. Ele descreve a Philia como um laço de benevolência mútua, onde se quer o bem do outro pelo próprio outro, e não pelo que ele pode oferecer.

Aristóteles categorizou estes tipos de amor (baseados na amizade) em três níveis, e eu convido você a ter a coragem de diagnosticar onde o seu relacionamento se encaixa hoje:

  1. Philia de Utilidade: Vocês estão juntos porque é conveniente? Um paga as contas, o outro cuida da casa? É uma relação de troca comercial disfarçada de afeto. Acaba assim que a utilidade cessa.

  2. Philia de Prazer: Vocês estão juntos apenas porque é divertido? É o amor dos “parceiros de festa” ou do sexo casual. É agradável, mas frágil. Se o prazer acaba ou a rotina pesa, o laço se desfaz.

  3. Philia de Virtude (A Amizade Perfeita): Este é o ápice. Ocorre entre pessoas que admiram o caráter uma da outra. Aristóteles chama o amigo de “outro eu” (allos autos). Você ama o parceiro não pelo dinheiro ou pelo sexo, mas por quem ele é.

O Diagnóstico Clínico: O “Casal de Costas”

No consultório, vejo muitos casais que tentam desesperadamente ressuscitar o Eros (com viagens caras, lingeries, jantares), mas ignoram que a Philia morreu há anos.

Sem Philia, vocês se tornam estranhos dividindo o mesmo CEP. É aquele silêncio constrangedor no restaurante, onde não há mais troca intelectual, não há mais curiosidade sobre o mundo interno do outro. 

A ciência psicológica moderna, corroborada pelos estudos de John Gottman (o maior pesquisador de casais do mundo), confirma Aristóteles: a “amizade profunda” é o indicador número 1 de satisfação conjugal a longo prazo, superando inclusive a compatibilidade sexual.

A pergunta dura que você precisa se fazer: Se você tirasse o sexo e a gestão da casa/filhos da equação, o que sobraria da sua relação com seu parceiro? Vocês ainda teriam sobre o que conversar?

O Eros olha para o corpo do amado; a Philia olha para a personalidade. O Eros quer fundir-se; a Philia quer caminhar lado a lado, como iguais. Um casamento que envelhece sem desenvolver a Philia de Virtude está condenado à solidão a dois.

3. Storge (Στοργή): O Amor da Familiaridade e o Perigo da Inércia

Se Eros é um incêndio e Philia é uma conversa entre almas, o Storge é o ar que respiramos: invisível, essencial, mas frequentemente ignorado até que falte.

Dentre os tipos de amor baseados na convivência, os gregos usavam este termo para descrever o afeto natural, aquele que brota da convivência lenta e contínua. É o amor dos pais pelos filhos, mas, nos relacionamentos amorosos, é o amor do hábito e do pertencimento

C.S. Lewis, em sua obra “Os Quatro Amores”, descreve o Storge como o mais “orgânico” e menos discriminatório dos afetos. Você ama porque convive, porque faz parte da mobília da sua vida.

É o sentimento de chegar em casa, tirar a “máscara social” e saber que você está em um terreno seguro. Não há necessidade de impressionar. É o conforto de ver um filme no sofá de moletom furado, sabendo que o outro não vai te julgar.

O Lado Sombra: A Síndrome do “Irmão e Irmã”

Aqui reside uma armadilha silenciosa que destrói casamentos de décadas. O Storge é tão confortável que pode se tornar um narcótico.

A neurociência do apego (Base Segura de Bowlby) nos diz que precisamos dessa segurança para funcionar no mundo. 

Porém, quando um casal opera 100% em Storge, a polaridade sexual morre. O mistério desaparece. Você sabe exatamente o que o outro vai dizer, o que ele vai comer, a que horas vai dormir.

  • O Diagnóstico Clínico: Eu atendo casais que se dizem “super parceiros”, nunca brigam, gerem a casa como uma empresa eficiente, mas não se tocam há meses. Eles se tornaram ótimos sócios domésticos. O Storge tomou conta de tudo e sufocou o Eros. Leia mais sobre isso noutro artigo de minha autora sobre Terapia de Casal

  • A Lição: O Storge deve ser a base (o chão), não o teto (o limite) do seu relacionamento. Valorize a segurança que vocês construíram, mas não a use como desculpa para a preguiça de conquistar o outro novamente.

Close-up de rosto chorando e sorrindo sob luz solar vibrante, representando a complexidade emocional e o sacrifício do tipo de amor Agape.

4. Agape (Ἀγάπη): O Amor Incondicional e a Decisão Consciente

Chegamos agora ao cume da montanha. Enquanto os outros tipos de amor dependem de alguma troca (prazer, companhia, segurança), o Agape é o único que não precisa de reciprocidade para existir.

Originalmente, os gregos usavam o termo de forma genérica, mas ele foi elevado pelos neoplatônicos e, posteriormente, pela tradição cristã, ao status de virtude suprema. Agape é o amor oblativo, caridoso e altruísta.

Diferente de Eros (que é um sentimento que “acontece” com você), Agape é uma decisão. É um verbo, não um substantivo. É quando você acorda, olha para o seu parceiro — que talvez esteja doente, irritado ou financeiramente quebrado — e decide amá-lo, apesar das circunstâncias.

A Psicologia da Entrega (e os seus limites)

Na Psicologia, associamos o Agape à maturidade emocional plena. É a capacidade de colocar o bem-estar do outro acima do seu próprio ego momentâneo. É o pai que acorda de madrugada para cuidar do filho; é o parceiro que assume as responsabilidades quando o outro entra em depressão.

No entanto, preciso ser o “advogado do diabo” e trazer o alerta do consultório:

  • Agape sem sabedoria é martírio e pode reforçar uma relação de abuso.

  • Tenho pacientes que sustentam relacionamentos abusivos ou narcisistas sob a justificativa de “amor incondicional”. Eles se doam infinitamente (Agape), enquanto o outro apenas recebe e consome (Eros infantil).

A Regra de Ouro: O Agape é o tecido que remenda as falhas inevitáveis do casamento. Quando o Eros falha (e ele vai falhar) e a Philia tropeça, é o compromisso do Agape que diz: “Eu fico. Nós vamos consertar isso”. Sem uma dose de Agape, nenhum relacionamento sobrevive à primeira crise séria. Mas lembre-se: ele deve ser um presente voluntário, não uma sentença de autodestruição.

Uma fotografia conceitual de uma balança antiga em equilíbrio. De um lado, um coração vibrante (paixão/instinto); do outro, uma estrutura de cristal em forma de âncora (estabilidade/decisão). Fundo de biblioteca desfocado (sabedoria).

5. Ludus (Λudus): O Amor Jogo e a Armadilha da Conquista

Se Agape é o compromisso sério, Ludus é a recreação descompromissada. Para os gregos, este termo descrevia o amor brincalhão, a paquera, a sedução que não busca finalidade além do prazer do momento. 

É o flerte na festa, a dança da conquista, o “ficar” sem compromisso.

No início de qualquer relação, o Ludus é um tempero essencial. É ele que traz a leveza, o riso solto e a diversão. Um casamento sem Ludus torna-se pesado, burocrático e solene demais.

A Patologia: A Síndrome de Don Juan

O problema surge quando o indivíduo fica preso no estágio de Ludus. Na clínica, atendo frequentemente homens e mulheres viciados na novidade ou na “caça”. Para eles, a graça não está em ter a pessoa, mas em conquistar a pessoa.

 Assim que o alvo se entrega e a relação exige intimidade real (vulnerabilidade), o jogador de Ludus perde o interesse e parte para a próxima mesa de jogo.

  • A Neuroquímica do Jogador: Este comportamento é alimentado por picos rápidos de dopamina (recompensa imediata). O Ludus evita a oxitocina (o hormônio do vínculo profundo).

A Reflexão: Se você sente que seu parceiro é esquivo, evita rótulos, some e aparece, e trata seus sentimentos como peças de um tabuleiro, você pode estar tentando construir uma catedral em um terreno de areia movediça. O Ludus não quer construir; ele quer ganhar.

6. Pragma (Πράγμα): O Amor Prático e o Projeto de Vida

Enquanto o mundo moderno romantiza o Eros, as civilizações antigas e muitas culturas orientais sustentaram impérios com base no Pragma. Este é o amor realista, fundamentado na razão, no dever e nos objetivos comuns de longo prazo.

Pragma é o amor “cabeça”. É quando você escolhe um parceiro não apenas porque ele tem olhos bonitos ou um corpo “trincado”, mas porque ele seria um bom pai, um bom provedor, ou porque seus valores financeiros e morais se alinham com os seus.

Muitos torcem o nariz para este, que é um dos tipos de amor mais racionais, chamando de “interesseiro” ou “frio”. Mas a psicologia de casais mostra que o alinhamento pragmático é o maior preditor de estabilidade financeira e familiar.

A Evolução Necessária

O Pragma é o amor que diz: “Nós somos uma equipe. Vamos construir patrimônio, criar filhos saudáveis e envelhecer com dignidade”. No entanto, o Pragma sozinho é árido. Ele vira uma “sociedade limitada”.

O Segredo: Os casamentos mais duradouros que conheço começam com Eros, desenvolvem Philia e se sustentam no Pragma. Se você tem paixão e amizade, mas não consegue concordar sobre como gastar o dinheiro ou onde morar, a falta de Pragma vai erodir o amor de vocês.

7. Philautia (Φιλαutία): O Amor Próprio (O Alicerce de Todos)

Deixei este por último propositalmente, pois ele é a pré-condição para que todos os outros tipos de amor existam de forma saudável. Aristóteles foi brilhante ao perceber que a relação que temos com os outros é um espelho da relação que temos conosco.

A Philautia se divide em duas vertentes, e saber a diferença entre elas é vital:

  1. Philautia Nociva (Narcisismo): É a obsessão pelo ego, a arrogância, a necessidade de ser adorado. O narcisista não ama a si mesmo; ele ama uma imagem idealizada de si mesmo para compensar uma insegurança profunda. Ele suga o amor alheio (como um vampiro emocional) porque é vazio por dentro.

  2. Philautia Saudável (Autoestima): É a capacidade de se respeitar. É saber impor limites. É a “regra da máscara de oxigênio do avião”: você precisa colocar a máscara em si mesmo antes de tentar salvar o parceiro.

O Grande Erro Terapêutico

Eu vejo pessoas tentando desesperadamente oferecer Agape (amor incondicional) aos outros, quando sua Philautia está destruída. O resultado é devastador: elas se tornam capachos emocionais, aceitando migalhas de afeto porque acreditam, no fundo, que é isso que merecem.

Se você não tem Philautia, você não tem amor para dar; você tem carência para vender. E carência não atrai amor saudável; atrai predadores.

Nota do Psicólogo: Quer salvar seu casamento? Comece salvando a si mesmo. Recupere seus hobbies, sua dignidade, seu espaço. Paradoxalmente, quando você aumenta sua Philautia, você se torna mais atraente (reativando o Eros do outro) e mais capaz de amar sem dependência.

A Visão da Ciência Moderna: A Teoria Triangular de Sternberg

Se os gregos nos deram o vocabulário poético, a psicologia moderna nos trouxe a matemática do afeto. No final dos anos 80, o psicólogo Robert Sternberg revolucionou a terapia de casais ao propor que o amor não é um sentimento único, mas um triângulo composto por três vértices fundamentais.

Esta teoria sobre os tipos de amor, amplamente validada por estudos como a Sternberg Triangular Love Scale (STLS), sugere que a “geometria” do seu relacionamento determina sua duração e sua qualidade.

Para Sternberg, o amor completo (Amor Consumado) só existe quando três componentes estão presentes e equilibrados:

1. Intimidade (O Vértice Quente)

Não confunda com sexo. A Intimidade, segundo Sternberg, refere-se ao sentimento de conexão, proximidade e confiança.

  • O que é: É a capacidade de ser vulnerável. É saber os medos do outro, compartilhar segredos e sentir-se compreendido.

  • Na Prática: É o que chamamos de Philia. Sem Intimidade, vocês são dois estranhos dividindo a cama.

2. Paixão (O Vértice Ardente)

É o motor biológico e motivacional. Envolve a atração física, o desejo sexual e o romance.

  • O que é: É a dopamina pura. É o desejo de fusão.

  • A Pegadinha: A paixão é o componente mais rápido de surgir e o mais rápido de desaparecer. Muitos casais entram em crise porque confundem o declínio natural da Paixão com o fim do amor, quando na verdade estão apenas evoluindo de fase.

3. Compromisso (O Vértice Frio)

É a decisão cognitiva e racional. Divide-se em curto prazo (“eu decido amar essa pessoa”) e longo prazo (“eu me comprometo a manter esse amor no futuro”).

  • O que é: É o que segura o barco nas tempestades. É o Pragma e o Agape em ação. O Compromisso é o único componente que a vontade consciente pode controlar totalmente.

O Diagnóstico Clínico: As 8 Equações do Amor

Para facilitar a sua autoanálise, abandonei as tabelas complexas. Vamos usar a lógica direta de Sternberg. Identifique qual destas “fórmulas” descreve a sua realidade conjugal hoje.

Lembre-se dos 3 Ingredientes: (I) Intimidade, (P) Paixão e (C) Compromisso.

GRUPO 1: O Amor Desequilibrado (Apenas 1 Ingrediente)

1. Simpatia/Amizade

  • Fórmula: Apenas (I) Intimidade
  • O que é: Vocês são ótimos amigos. Conversam, riem, confiam um no outro, mas o desejo físico morreu e não há planos sólidos de futuro (ou eles são mantidos apenas por inércia).
  • Risco: Tornarem-se apenas “colegas de quarto”.

2. Paixão Obsessiva (Infatuation)

  • Fórmula: Apenas (P) Paixão

  • O que é: O famoso “amor à primeira vista”. É pura química, hormônios e idealização. Você não conhece a pessoa real, apenas o corpo ou a imagem dela.

  • Risco: Altíssima volatilidade. Costuma acabar tão rápido quanto começou.

3. Amor Vazio

  • Fórmula: Apenas (C) Compromisso

  • O que é: O relacionamento mantido pelo “dever”. Vocês estão juntos pelos filhos, pela religião, pelo patrimônio ou pelo medo da solidão. Não há toque, nem conversa profunda.

  • Risco: Depressão e solidão a dois.


GRUPO 2: As Combinações Comuns dos Tipos de Amor (2 Ingredientes)

4. Amor Romântico (O Namoro Eterno)

  • Fórmula: (I) Intimidade + (P) Paixão

  • O que é: A fase da “lua de mel”. Vocês se adoram, se desejam, conversam horas, mas fogem quando o assunto é “construir algo sério” ou enfrentar dificuldades financeiras/reais.

  • Falta: O Compromisso (C) para suportar as tempestades.

5. Amor Companheiro (O Casamento Clássico)

  • Fórmula: (I) Intimidade + (C) Compromisso

  • O que é: O modelo mais comum em casamentos de longa data. A parceria é inquebrável, o carinho é enorme, mas o sexo virou uma lembrança distante ou uma tarefa burocrática.

  • Falta: A Paixão (P) para reacender a vitalidade.

6. Amor Fátuo (A Ilusão de Hollywood)

  • Fórmula: (P) Paixão + (C) Compromisso

  • O que é: O casal que se conhece em um mês e casa no outro. O desejo leva à decisão impulsiva de união, sem que haja tempo para desenvolver a amizade real (conhecer os defeitos).

  • Falta: A Intimidade (I) que dá sustentação real.


GRUPO 3: A Meta Suprema

7. Amor Consumado (O Amor Completo)

  • Fórmula: (I) Intimidade + (P) Paixão + (C) Compromisso

  • O que é: O “Santo Graal” das relações. Vocês são melhores amigos, amantes ardentes e sócios leais na vida. É raro e difícil de manter, pois exige esforço diário nos três vértices.

  • O Segredo: Não é um estado permanente, é um ato contínuo de manutenção.

Casal idoso feliz e abraçado em um jardim colorido, exemplificando o Amor Consumado, o objetivo final entre os tipos de amor estudados pela psicologia.

Diagnóstico Triangular (Adaptação da Escala STLS)

Para que possamos traçar o perfil real do seu relacionamento, não basta “achar”. Precisamos medir considerando os tipos de amor. Abaixo, apresento uma adaptação direta da escala original desenvolvida pelo Dr. Robert Sternberg.

Instruções de Aplicação: Pegue um papel ou o bloco de notas do celular. Para cada frase abaixo, atribua uma nota de 1 a 5, sendo:

  • 1 = Discordo Totalmente (Isso não existe na relação)

  • 2 = Discordo Parcialmente

  • 3 = Neutro / Às vezes

  • 4 = Concordo Parcialmente

  • 5 = Concordo Totalmente (Isso é muito forte na relação)

Seja brutalmente honesto. Ninguém vai ver esse resultado além de você.

BLOCO A: A Escala de Intimidade (O Calor)

Avalia a conexão emocional, o apoio e a confiança (Philia).

  1. Tenho um sentimento de apoio e suporte emocional constante vindo do meu parceiro(a). [Nota: ___]

  2. Sinto que posso confiar meus segredos mais profundos a ele(a) sem medo de julgamento. [Nota: ___]

  3. Nossa comunicação é fluida e sinto que somos realmente compreendidos um pelo outro. [Nota: ___]

  4. Sinto uma conexão calorosa e de proximidade quando estamos juntos, mesmo em silêncio. [Nota: ___]

  5. Prezo imensamente o bem-estar dele(a) e sinto que ele(a) preza o meu. [Nota: ___]

SOMA DO BLOCO A: _____ (Máximo 25)


BLOCO B: A Escala de Paixão (O Fogo)

Avalia o desejo físico, o romance e a excitação (Eros).

  1. Sinto uma atração física muito forte pelo meu parceiro(a). [Nota: ___]

  2. Muitas vezes me pego pensando nele(a) durante o dia de forma idealizada ou romântica. [Nota: ___]

  3. Existe uma “eletricidade” ou tensão sexual clara entre nós. [Nota: ___]

  4. O toque físico é frequente e carregado de significado erótico, não apenas mecânico. [Nota: ___]

  5. Meu relacionamento é “vivo” e excitante, não apenas uma rotina confortável. [Nota: ___]

SOMA DO BLOCO B: _____ (Máximo 25)


BLOCO C: A Escala de Decisão/Compromisso (A Estrutura)

Avalia a estabilidade a longo prazo e a escolha consciente (Pragma/Agape).

  1. Tenho certeza absoluta de que quero manter esse relacionamento a longo prazo. [Nota: ___]

  2. Vejo meu compromisso com essa pessoa como algo sólido, que resiste a brigas ou crises. [Nota: ___]

  3. Planejo o meu futuro (anos à frente) contando com a presença dessa pessoa. [Nota: ___]

  4. Sinto uma responsabilidade consciente de manter nossa união, mesmo quando a paixão oscila. [Nota: ___]

  5. Eu “escolho” estar com essa pessoa todos os dias, racionalmente. [Nota: ___]

SOMA DO BLOCO C: _____ (Máximo 25)


Análise Clínica dos Resultados

Agora, olhe para as suas somas. O equilíbrio (ou a falta dele) entre esses números revela a “geometria” exata do seu amor.

Como interpretar seus pontos:

  • 05 a 12 pontos: Zona Crítica (O componente está morrendo ou inexistente).

  • 13 a 19 pontos: Zona de Manutenção (Existe, mas precisa de atenção).

  • 20 a 25 pontos: Zona de Força (O componente é saudável).

CENÁRIO 1: O Triângulo Desmoronado (Pontuação baixa em 2 ou 3 blocos)

Se você somou menos de 15 pontos em dois ou mais blocos, seu relacionamento pode estar em risco iminente. Você pode estar vivendo um “Amor Vazio” (só compromisso) ou apenas uma “Amizade” (só intimidade).

  • A Realidade: Vocês estão empurrando com a barriga. A inércia é a força mais perigosa que existe, pois ela não dói agudamente; ela anestesia até que seja tarde demais.

CENÁRIO 2: A Assimetria Perigosa (Um bloco muito alto, outros baixos)

Exemplo comum: Você tem 23 em Compromisso (Bloco C), mas 10 em Paixão (Bloco B) e 12 em Intimidade (Bloco A).

  • A Realidade: Vocês são sócios eficientes de uma empresa chamada “Família S.A.”. Tudo funciona, as contas estão pagas, mas a alma do casal evaporou. Isso abre uma porta gigantesca para a traição, pois o ser humano não suporta viver sem Paixão ou Intimidade para sempre.

CENÁRIO 3: O Fogo de Palha (Alto em B, Baixo em A e C)

Muitos pontos em Paixão, mas quase nada em Compromisso ou Intimidade.

  • A Realidade: Isso é Infatuation (Paixão Louca). É delicioso, mas extremamente instável. Sem construir os pilares A e C, a primeira tempestade vai derrubar a casa.


O Próximo Passo: O Que Fazer com Esse Diagnóstico?

Olhar para esses números pode ser desconfortável. Talvez você tenha percebido que o seu “Amor Consumado” virou “Amor Companheiro”, ou pior, que restou apenas o “Compromisso”.

Mas eu tenho uma boa notícia baseada na ciência: O amor é dinâmico, não estático.

Esses números não são uma sentença final; são uma fotografia de hoje. Diferente de um traço de personalidade imutável, os vértices do triângulo podem ser expandidos com intervenção intencional.

É aqui que entra a responsabilidade de buscar ajuda profissional. Não espere o triângulo colapsar para tentar segurar as paredes.

Qual o Caminho Ideal para Você?

1. Terapia Individual:

  • Indicado se: Você percebeu que sua pontuação é baixa por bloqueios seus (dificuldade de se entregar, traumas passados, falta de Philautia/Autoestima). Se você não se ama, é impossível sustentar os vértices da Intimidade e Paixão de forma saudável.

  • O Objetivo: Fortalecer sua identidade para que você possa amar por transbordamento, e não por carência.

2. Terapia de Casal:

  • Indicado se: Os dois querem, mas não sabem como. Se a pontuação de Compromisso (Bloco C) ainda existe (mesmo que média), há esperança. A terapia de casal não é para “brigar na frente do juiz”; é um laboratório prático para reaprender a linguagem da Intimidade e reativar os gatilhos da Paixão.

Perguntas Frequentes (FAQ)

1. É psicologicamente possível amar duas pessoas ao mesmo tempo?

Sim, mas raramente da mesma forma. O cérebro humano é capaz de processar tipos de afeto simultâneos em circuitos neurais distintos. Frequentemente, o que ocorre é uma dissecção dos tipos gregos: você pode sentir um Storge (segurança e história) profundo pelo seu cônjuge, enquanto sente um Eros (paixão e novidade) avassalador por uma terceira pessoa. O Veredito: Biologicamente possível? Sim. Eticamente sustentável ou saudável a longo prazo? Certamente não. Essa divisão fragmenta o Self e gera uma dissonância cognitiva exaustiva. A “poligamia afetiva” em especial não acordada costuma ser uma fuga da intimidade real, e não um excesso de amor.

Sim, mas raramente da mesma forma. O cérebro humano é capaz de processar tipos de afeto simultâneos em circuitos neurais distintos. Frequentemente, o que ocorre é uma dissecção dos tipos gregos: você pode sentir um Storge (segurança e história) profundo pelo seu cônjuge, enquanto sente um Eros (paixão e novidade) avassalador por uma terceira pessoa. O Veredito: Biologicamente possível? Sim. Eticamente sustentável ou saudável a longo prazo? Certamente não. Essa divisão fragmenta o Self e gera uma dissonância cognitiva exaustiva. A “poligamia afetiva” em especial não acordada costuma ser uma fuga da intimidade real, e não um excesso de amor.

Depende da sua hierarquia de valores atual. Na psicologia conjugal, chamamos isso de “Casamento Companheiro”. Estatisticamente, são as uniões mais estáveis e duradouras. No entanto, a frustração sexual crônica pode levar ao ressentimento ou à somatização (doenças físicas). A Solução: O erro é achar que o Eros volta “naturalmente”. Ele não volta. Ele precisa ser provocado. A neurociência mostra que o Eros precisa de novidade e distância (mistério). Se vocês se fundiram demais (“somos um só”), mataram o desejo. A terapia de casal trabalha justamente a “reindividualização” para reacender o interesse. Não se divorcie antes de tentar a reativação erótica guiada.

A diferença está na autonomia. No Agape, você se doa porque transborda; você é um indivíduo inteiro que escolhe nutrir o outro. Na dependência, você se doa porque precisa desesperadamente que o outro não vá embora; você é uma metade buscando completude. O Teste do Espelho: Se o outro não te retribuísse nada por 3 meses, você continuaria fazendo o que faz por princípio (Agape) ou entraria em colapso e desespero (Dependência)? O amor adulto suporta a falta; a dependência não.

A limerência é um estado cognitivo alterado (obsessão, pensamentos intrusivos), muitas vezes confundida com Eros máximo. Ela é baseada na incerteza: “será que ele(a) gosta de mim?”. O amor real (Amor Consumado) precisa de certeza e segurança para crescer. A Transição: Para virar amor, a limerência precisa “morrer”. A idealização precisa dar lugar à decepção de ver o outro como ele é (com defeitos) e, ainda assim, ficar. Se você só ama a versão idealizada, você não ama a pessoa, você ama a sua própria projeção.

O Ludus é tóxico quando é o único prato do cardápio. Porém, paradoxalmente, ele é o tempero que salva casamentos do tédio. Casais que pararam de “brincar”, de flertar sem motivo, de provocar um ao outro com leveza, tornam-se pesados. A Aplicação: Introduzir doses controladas de Ludus (humor, mensagens picantes, role-play) em uma base sólida de Storge é uma das estratégias mais eficazes para a longevidade conjugal. O problema não é o jogo; é jogar com os sentimentos, não com a imaginação.

A ideia de “Alma Gêmea” (o Mito de Aristófanes) é poética, mas perigosa. Ela pressupõe que existe alguém pronto, “fábrica-aberta” para você. Isso gera a “Mentalidade de Destino”: ao primeiro conflito, você pensa “ah, não era a pessoa certa” e desiste. A Visão Científica: A psicologia defende a “Mentalidade de Crescimento”. O amor não é encontrado; ele é construído (Pragma). Almas gêmeas são forjadas no fogo dos problemas resolvidos juntos, não descobertas prontas na esquina.

Sim, mas a cicatriz muda a anatomia da relação. O “Amor Inocente” (aquele que nunca foi quebrado) morreu. O que pode nascer no lugar é um “Amor Maduro”, baseado na reparação consciente. O Processo: Exige um Agape brutal do traído (para perdoar, não esquecer) e um Compromisso férreo do traidor (transparência total). Estudos mostram que casais que sobrevivem à infidelidade e fazem terapia costumam desenvolver uma Intimidade (Philia) muito mais profunda do que antes, pois as máscaras caíram totalmente. Mas é um caminho para poucos corajosos.

Conclusão: O Amor é uma Classe Ampla de Comportamentos, Não Apenas um Sentimento

Chegamos ao fim desta anatomia dos afetos. Se você leu até aqui, já possui mais conhecimento sobre os tipos do amor do que 90% das pessoas que apenas “sentem”, mas não “entendem”.

Talvez você tenha descoberto que vive um Amor Companheiro e sente falta do fogo. Talvez tenha percebido que está preso na armadilha do Eros sem futuro. Ou talvez, dolorosamente, tenha constatado que seu triângulo se desfez.

Eu, enquanto psicólogo, preciso lhe dizer algo incisivo: Diagnóstico sem ação é apenas angústia.

Saber que você está doente e não tomar o remédio não cura a doença. O amor não se resolve sozinho com o tempo; o tempo, sem manutenção, tende à entropia (desordem). 

Se você quer reescrever a geometria da sua relação — ou se preparar para encontrar um amor que preencha os três vértices — você precisa de estratégia.

No Inpa, nós não trabalhamos com “conselhos de amigos”. Trabalhamos com protocolos clínicos para reestruturação de vínculos, autoestima e inteligência emocional.

Você tem duas escolhas agora: fechar esta página e continuar torcendo para que as coisas melhorem “magicamente”, ou assumir a responsabilidade adulta de construir a vida afetiva que você merece.

O Próximo Passo Inteligente

  • Para Você (Individual): Sente que seus padrões se repetem? Que lhe falta Philautia (amor próprio)? Vamos trabalhar sua base.

  • Para Vocês (Casal): O diálogo travou? O sexo acabou? Vamos renegociar o contrato afetivo e reacender o triângulo.

Este conteúdo tem caráter educativo e informativo baseados em teorias psicológicas consolidadas (Gottman, Sternberg, Bowlby). Ele não substitui o diagnóstico clínico ou o tratamento psicoterápico presencial/online.

Sou Fábio Caló, psicólogo clínico e Mestre pela UnB com 27 anos de prática baseada em evidências. Especialista em intervenções de alta complexidade para crises conjugais (Método Gottman) e tratamento do consumo problemático de pornografia, através de protocolo clínico próprio. Ajudo pacientes e casais a superarem padrões destrutivos com estratégias científicas e resultados mensuráveis.

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