O antes, o meio e o depois.

antes meio e fim
antes meio e fim

 Roosevelt R. Starling
Publicado em: 02/06/2003

[email protected] / UFSJ

Pelo barulhão que as colheres faziam nas panelas onde Quitéria preparava o almoço da família, todo mundo na casa sabia que ela estava num dia daqueles: uma cobra de braba.
– Desgraçado, filho-da-mãe, cachorro, cretino! – resmungava Quitéria, numa ladainha interminável e repetida, ouvisse quem quisesse ouvir, tapasse os ouvidos quem não quisesse. E, a cada xingamento, colheradas nas panelas: des – PÁ! – gra – PAM! – ça – PAF! – do! – BUM!
É que, mais uma vez, o Aleluia, seu marido, havia chegado tarde do trabalho. Bem, não era bem isso…ou melhor, era isso, mas era mais do que isso, ou era isso e mais do que isso.
Aleluia havia chegado tarde do serviço e com um bafo de água-que-boi-não-bebe que encheu a casa na horinha mesma em que ele disse um “boa noite” cabreiro, assim meio de lado, dando para Quitéria aquela olhada de cachorro que rasgou roupa no varal. Sejamos justos: bebum, assim bebunzão mesmo, estava não.

Altinho, meio-que-besta, meio-mole, alterado…ah!, isso é que sim. Mas, de tudo isso, o que deixava Quitéria puruca da vida era o “mais uma vez”.
– Ó, Aleluia, vou te falando logo– disse a Quitéria para um Aleluia meio sem graça quando aquilo havia acontecido pela segunda ou terceira vez no seu casamento – eu não sou desse tipo de mulher que briga à toa, que implica com qualquer coisinha.

Nem fico vigiando homem meu, não. Eu cuido das minhas obrigações, eu sou uma mulher direita e o que eu quero de você é a mesma coisa. Não quero saber de vizinhança minha falando que sou mulher de bêbado e de vagabundo e NÃO ADMITO, ” – e nessa hora Quitéria deu um grito e o Aleluia deu um pulo. – -não aceito de jeito nenhum que filho meu vá passar vergonha na rua por maledicência do pai!
Quitéria era mulher resolvida nesses assuntos, sabia o que era certo fazer. Afinal, tinha visto a sua mãe, Afonsina, passar pelo mesmo problema com o seu pai. Só que Dona Afonsina foi mansa demais, entendia demais, perdoava demais. O resultado foi que o pai de Quitéria, de atrasos e goles com os amigos que ocorriam um dia por ano, passou a fazer isso dois dias por semestre e terminou chumbando um dia sim e o outro também.
Que vergonha passava a menina e a moça Quitéria! Que raiva tinha! Raiva do pai, raiva dos amigos do pai, dó da mãe e dó dela. Dó do pai e dos amigos
do pai, raiva da mãe e raiva dela.

Que confusão era os sentimentos de Quitéria. Mas, – Por tudo quanto é mais sagrado na minha casa isso não vai acontecer, não! – resmungava Quitéria, enquanto marcava a frase batendo com a colher nas panelas.

A desgraça, meus amigos, é que parecia que tudo ia direitinho pelo mesmo caminho. Dava até para dizer: tal a mãe, tal a filha. Dava até para acreditar em destino certo. Aleluia era moço bom, mas muito simples, de gênio aberto, amigo de todo mundo, trabalhador que só ele. Honesto, o Aleluia! Mas tinha essa coisa de gostar dos amigos ue o levavam para o mau caminho, pensava Quitéria.

– Quitéria, Quitéria! Tem dessa de amigo levar a gente para o mau caminho, não, Quitéria! Pardal não voa com andorinha e nem andorinha com pardal. Má companhia eles são é para você, Quitéria. Para ele são ótima companhia. Olho no seu marido, minha filha, que o demo está é dentro dele mesmo: fica com os outros é só pelo prazer da companhia! Quem lhe disse isso foi a velha Geni, pessoa sabedora e esclarecida das coisas da vida e muito religiosa, cujo terreiro dava fundo para o de Quitéria desde que ela se mudou para Vista Alegre.

– Será?!!! – pensava Quitéria lá com os seus botões, pois que no fundo sabia que o seu Aleluia era mesmo um homem bom! Arre, que bom podia até ser, mas Quitéria é que não era boba de dar moleza. Gato escaldado tem medo de água fria e Quitéria era bem escaldada. A cada vez que Aleluia saía dos trilhos, Quitéria passava mais de uma semana sem falar com ele. Carinho, então, nem pensar!
– Fácil para ele, não é? Apronta e depois no outro dia fica todo meloso, todo gato roça-roça, querendo fazer as pazes! – resmungava Quitéria. Certa vez, até mesmo uma imagem de Nossa Senhora, igualzinha a que Quitéria sempre admirava na casa da Geni, o Aleluia comprou para ela no outro dia, depois do quase porre.
– Pois sim! Ele é que espere, para ver o que é bom para a tosse!
Quitéria é que não era mulher de ser dobrada assim tão, tão. Que às vezes o coração dela amolecia ao ver a cara de coitado do Aleluia, o seu rela- rela meio sem jeito, as suas tentativas de fumar o cachimbo da paz, ah!, isso amolecia; mas ela endurecia! Podia até ouvir o que havia jurado para si mesma: – Por tudo quanto é mais sagrado, na minha casa isso não vai acontecer, não!
– Ca – PAM! – cho – PLAF! – rro! –
BUM! – Mas, xingando ou não, resmungando ou não, feliz ou aborrecida, o almoço tinha que sair: comer era preciso. Tinha os meninos, coitados, que não tinham nada com isso, inocentes que eram!

Aleluia estava mais do que bem acordado! Acordou com um arrepio ao primeiro PAM! que ouviu. Estremeceu na cama ao PLAF! e virou de barriga para- cima na cama e ficou olhando para o teto ao BUM! Ééééé! Mais um dia do cão ia ser aquele. Pior: mais uma semana cachorra ia ser aquela! Ia até usando o bate- que-bate que vinha da cozinha para fazer a sua rima: se-ma-na-ca–PAM!-cho–PLAF!- rra–BUM! Êta, mulher braba dos infernos era aquela sua!
Mas fazer o quê? Aleluia gostava dela: que bonita era a sua Quitéria, até mesmo quando estava com raiva! Mais até quando estava com raiva! Como isso era possível, Aleluia não tinha a menor idéia, mas que era, era! E lá ficava o Aleluia, conversando com ele mesmo, falando tão baixinho que só ele ouvia: Aleluia ficava pensando – (porque, quando a gente está “pensando”, o que a gente está fazendo mesmo é ficar falando para a gente mesmo, não é? Igualzinho quando a gente fala com uma outra pessoa mas só que, nesse caso, a gente mesmo fala, a gente mesmo ouve, a gente mesmo responde-).
Nós já sabemos que Aleluia era uma pessoa muito simples. Só sabia falar um pouco,portanto, só sabia pensar um pouco. Seus pais eram muito caladões. Pouco falavam entre eles mesmos e com os meninos e assim continuaram, a medida que Aleluia crescia. Para falar a verdade, era difícil para Aleluia saber até o que ele sentia: ele sentia umas “coisas” no corpo dele, um aperto no peito, um nó na garganta, um frio na barriga. Sabia se eram “coisas” boas ou ruins aquilo que sentia, mas não sabia dar um nome para elas.

Como poderia? Ninguém havia lhe ensinado que, se a “coisa” fosse assim ou assado, chamava “medo”. Se fosse assado e assim, chamava “alegria”, e por aí vai. Aleluia, coitado, só sabia falar um pouco e por isso não sabia direito o que sentia. Ele sabia que, quando Quitéria ficava braba, ele sentia certas “coisas” no corpo dele e daí ele ficava falando para ele mesmo que o melhor era sair de perto dela. Mas quando ele pensava em sair de perto dela, ele sentia outras “coisas” tão ruins que logo desistia da
idéia. E então, quando ele já ia mesmo desistindo, sentia outra “coisa” que lhe fazia pensar de novo em sair; e quando pensava assim, sentia uma outra “coisa” ainda, muito ruim que, logo, logo, o fazia desistir de sair de perto dela; e quando ele já ia mesmo desistindo-

Pois é! Aleluia, em momentos como aquele, ficava que nem um iô-iô: ia e vinha, subia e descia. E nesse vai-e vem, nesse sobe-e-desce, como suava o coitado! Ah! Bom mesmo era quando ele estava com os colegas do serviço dele. Sentia um friozinho na barriga quando pensava no que a Quitéria faria no outro dia…mas isso, afinal, era só no outro dia! Naquele momento, que bom que era ficar ali, rindo das piadas que um fazia sobre o outro; comentando os acontecimentos do dia, ouvindo as estórias dos outros e – por que não?! – tomando, sim, um traguinho ou outro, que Aleluia era homem de saber até onde ir: nunca havia ficado bêbado em toda a sua vida! Era só para alegrar, para fazer a conversa ficar mais fácil, para rir mais fácil.

Na verdade, era difícil para Aleluia entender porque Quitéria ficava tão braba. Diacho! Isso nunca acontecia mais do que uma vez por mês, a maioria das vezes até mais picado ainda! Por que ela tinha de brigar com ele toda vez? Puxa vida! E aí tinha também essa coisa de ficar brigada uma semana inteira. Ficava lá, no canto dela: cara amarrada, conversa atravessada, sim-não e não sim. Punha a comida na mesa como se estivesse dando comida para os cachorros: puf, paf, trof, assim, jogada. Nem um dedo de prosa, nem sentar junto, nem mesmo olhar para ele! Chegar perto dela para um cafuné? Acabou ficando com um frio na barriga só de pensar. Mas o frio na barriga foi só no começo. Tinha vezes que dava um troço ruim nele que a vontade danada era xingar ela, era brigar com ela. Depois, ficava jururu, sem graça. Aleluia não era homem de xingar, de brigar. Ficar mais de esguelha, mais quieto no seu canto, é que era mais do seu jeito. Depois, com o tempo, ele já estava ficando era só mais afastado, mais arredio, sem nem mesmo tentar fazer as pazes; se não adiantava mesmo, então para quê tentar?

Uma coisa engraçada: cada vez que a semana cachorra acontecia, Aleluia ficava cada vez mais pensando em que bom mesmo era se ele pudesse estar se divertindo naquela hora com os amigos…! Não porque ele se sentisse assim tão bem com eles – o que ele sentia sim, se não fosse o frio na barriga, mas não era só isso, ele sabia – mas mais porque ele estava se sentindo assim tão mal com a Quitéria, quando ela ficava de ovo virado. Diacho de mulher dura, sô: parecia até que quanto mais ele tentava chegar perto dela, mais ela se afastava dele!

Quando a semana cachorra acontecia, Aleluia sempre pensava também no tio Zé. Porque isso, ele também não sabia

Zé de Nadir era um velhote magro, espigado, peão moreno do sol de cada dia. Zé de Nadir não sabia ler, não sabia escrever; mal sabia fazer conta. Mas, para lidar com a criação, em toda a região não havia ninguém como ele. Cavalo brabo, que não dava
montaria a ninguém, andava como um doce quando o Zé de Nadir lidava com ele. E o que mais deixava todo mundo de boca aberta: nunca se viu ou se soube que o Zé usasse espora ou chicote. Como podia?

Cachorrada então, nem falar: quando o Zé chegava no terreiro, era uma alegria só! Vinha tudo correndo, tudo querendo um carinho, tudo pulando. Zé ria muito quando isso acontecia. Dava um carinho para um aqui, um pedacinho de pão ali, um assovio doce acolá. Pessoa curiosa, Zé de Nadir
era também muito severo, muito positivo. Quando lhe pediam as coisas, Zé podia dizer “sim” com mel na boca e o danado podia também dizer “não” com o mesmo mel. Onde já se viu isso?! Até parecia que o Zé não ligava muito para as pessoas. Bem, não é que não ligava; ligava, mas ligava de um jeito diferente.

Havia quem gostasse muito do Zé e havia quem não gostasse do Zé. Mas todos acabavam por respeita-lo, por ouvir o que ele falava. É que, com o jeito do Zé, a gente não precisava ficar imaginando o que ele queria dizer; quando ele dizia, o que ele queria dizer era o que ele dizia, ora! Até mesmo Dona Geni já havia filosofado sobre isso:
– No Zé de Nadir a gente pode se fiar. Quando ele fala “sim”, a gente confia, porque a gente sabe que, se ele quiser, ele dá conta de dizer “não”. Então, o “sim” dele tem valor, não é?”.

Acontece que Zé de Nadir era sobrinho de Dona Afonsina, mãe de Quitéria. E, por essa e outras tantas, acabou por ser convidado e por aceitar ser padrinho do filho mais velho dela, coisa que deu a Quitéria muita alegria, pois, embora ela não entendesse direito porque é que toda a gente o respeitava, o fato era que toda gente o respeitava – inclusive Quitéria – e sempre se soube que o afilhado puxa o padrinho. Ele não era querido por todo mundo, mas e daí? Quem é que era?

Mas também, embora existisse quem não gostasse dele, esse não gostar não era muito grande, porque Zé de Nadir não se intrometia na vida dos outros, não se via nele intento de pre- judiciar os outros. O que mais parecia é que ele estava mesmo era cuidando principalmente dele e já não se disse que a gente precisa amar próximo como a gente ama a gente mesmo? Pois é: se a gente não cuida bem da gente, como pode amar os outros direito? De qualquer jeito, gostado ou não, “Seu” Zé de Nadir era ouvido por todo mundo e, afinal, até mesmo a Geni já havia falado sobre isso com respeito e sabedoria. Talvez o seu filho Renato pudesse crescer e ser tão respeitado quanto o padrinho!

Vocês sabem que coisa boa não tem hora de acontecer e nem o vento pede licença para ventar. Não é que naquele mesmo dia em que Quitéria resolvia parte da sua raiva dando colheradas nas pobres das panelas, Zé de Nadir recusou ir ao vilarejo e resolveu visitar os compadres e levar uns ovos para o afilhado. Quando Zé de Nadir ia visitar o afilhado, sempre levava alguma coisinha para ele. Coisa pouca, é verdade, mas demonstrava sempre consideração, sempre lembrança, sempre afeto .

Das vezes em que não levava nada, Zé de Nadir levava para o afilhado uma coisa que era muito dele: ele conversava com o afilhado. Falava, coisa que quase todo mundo faz, mas também ouvia, coisa que muito pouca gente faz. Pequeno que fosse o Renato, boba que fosse a conversa, ele ouvia o afilhado e respondia que nem se estivesse falando com gente grande! Ah! Como brilhavam os olhinhos do Renato quando ele estava conversando com o padrinho! Como ficava alegre sempre que o via chegar! Dava até uma pontadinha de ciúme em Quitéria, que não era lá de dar muita trela para menino.

Não me entendam mal: Quitéria amava os seus filhos, e amava muito. Mas ela havia aprendido que dar muita trela para menino não era bom, porque eles perdiam o respeito. O mistério é que Zé de Nadir dava trela e os meninos não perdiam o respeito: parecia até que aumentava, coisa esquisita!

Bem, cada um tem seu jeito: Quitéria era Quitéria e sabia o que fazia. Que ela ficava incomodada quando via o Renato todo chegado ao padrinho, ficava. Porque ele não fazia isso com ela, se ela amava tanto os filhos? Pensando nisso, porque até mesmo o Aleluia ficava babando o tio Zé e raramente ficava babão com ela, a não ser quando ele queria fazer as pazes?

Pensando ainda melhor, porque é que embora todo mundo sempre dissesse que ela era uma mulher muito honesta, muito direita, um exemplo para os outros, pouco gente chegava perto dela para bater um papo, para jogar conversa fora? E pensando um pouco melhor ainda, porque tanta gente falava tão bem dela e tão pouca gente ficava amiga dela?

Quando Quitéria pensava nessas coisas – o que não acontecia muitas vezes, é verdade – ela sentia coisas muito esquisitas: sentia um nó na garganta, sentia um aperto no peito, os olhos marejavam água. Aí então Quitéria tratava logo de pensar outras coisas; melhor era quando tinha pela frente uma panela e nas mãos uma colher e aí-bem, vocês já sabem: PAF! PAM! BUM!
– Dia, sobrinha, licença! – dizia o tio Zé, enquanto parava na soleira da porta da cozinha.
– Entra, tio! Chegou na horinha. Acabei de passar o café! – Quitéria sorria para o tio. Mas os seus olhos não sorriram. A voz de Quitéria foi educada, passava até mesmo um certo entusiasmo, mas as sobrancelhas estavam franzidas, as costas duras, os movimentos duros e Zé de Nadir, enquanto ia chegando, havia bem escutado o paf,pam,bum da colher nas panelas e o resmungo que as acompanhava.

Uma coisa é preciso dizer: embora ela ficasse muitas vezes incomodada com o jeito meio diferente do Zé de Nadir e ainda que ela não desse mesmo conta de entender aquela pessoa, tão perto dela no sangue e tão distante no jeito, Quitéria acabava por gostar das visitas do tio, mesmo que fosse de um jeito enviesado. O fato é que ele conversava com ela também e, como já vimos, isso não acontecia muito na vida de Quitéria.

É que Quitéria não era mulher de confidências e mexericos. Não gostava de fazer, não gostava de ouvir. Achava que cada um deve dar conta das suas coisas sozinho e que a gente não deve amolar ninguém com os problemas da gente. Havia aprendido isso com a sua mãe, que havia aprendido isso com a sua avó, que havia aprendido isso com a sua bisavó e, então, Quitéria fazia assim e pronto! Na verdade, até que, quando mocinha, ela havia sentido falta de ter alguém com quem poder falar aquilo que andava pensando, daquilo que andava sentindo. Mas foi quando conheceu o Aleluia e ficou encantada com ele que ela desobedeceu a sua regra; uma vezinha só! Contou para irmã, que contou para a outra irmã, que contou para a mãe, que contou para o pai, que criou um caso danado até entender que focinho de porco não era tomada e que o Aleluia, afinal, era um moço bom e que não estava a fim de se aproveitar da filha.

Daí para frente e pelo sim ou pelo não, Quitéria juntou a regra com a experiência: em boca calada não entra mosquito! Verdade! Não entra nem mosquito, nem doce, nem quitanda, nem chocolate: em boca fechada não entra nada! Mas a essa outra parte da boca fechada, Quitéria não estava atenta e, assim, se calada era, mais calada ficou. Às vezes, quando as coisas apertavam, sentia até uma comichão na língua, mas, na mesma hora, se lembrava da encrenca do Aleluia e acabava por seguir a sua regra: boca fechada! Como já lhes contei, Zé de Nadir era danado de esperto. Nada do que havia visto havia escapado aos seus olhos. Gostava de Quitéria. Doeu-lhe ver aquele jeito dela, o de falar uma coisa com a boca e outra com o corpo. O que poderia ter acontecido? Já tinha percebido antes – poucas vezes, é verdade – um certo clima mais pesado entre o casal, certos silêncios cheios de falta de graça, preenchidos custosamente por comentários de ocasião.

Mas até aquele dia jamais havia visto Quitéria tão afetada! E onde estava o sobrinho emprestado, o Aleluia? E o seu afilhado, Renato? Não os viu e nem perguntou por eles. Haveria tempo. Primeiro, Quitéria, que era quem estava ali e que parecia não estar lá muito contente.
– Ô, tio, o senhor fica para o almoço, não fica? – disse Quitéria. Zé de Nadir olhou e viu: mais uma vez, a boca sorria; os olhos não.

Zé de Nadir não era pessoa de ficar encucada com esse tipo de coisa. A maioria das gentes, ele já havia notado, parece que pensa que tudo o que acontece no mundo, acontece só por causa delas. Ou, se não pensa assim, age como se pensasse. Se alguém está de cara amarrada, é por causa delas; se alguém as cumprimenta meio de lado, é por causa de alguma coisa que elas “acham” que o outro “acha” que elas fizeram; se um convidado não vai a uma festa, é porque ele não gosta de quem convidou, e por ai vai. Coisa engraçada: é
como se o outro não tivesse uma vida dele, como se tudo o que acontecesse com o outro tivesse a ver comigo! Parecia até que cada um pensava que ele era a única fonte do bem e do mal no mundo!

Zé de Nadir, por sua vez, sabia que não era bem assim. Sabia disso porque gostava de observar o que ele mesmo fazia. Muitas vezes, Zé de Nadir estava de cara amarrada porque tinha muitas contas e pouco dinheiro; cumprimentava alguém meio brusco porque estava com muita pressa; não ia a uma festa porque precisava cuidar de algum serviço urgente ou, às vezes, porque simplesmente estava cansado demais: não tinha nada a ver com o outro!
– Ora, – falava Zé de Nadir com os seus botões – se isso funciona assim comigo, porque seria diferente com as outras gentes? Por acaso eu não sou como eles? Não sou semelhante?

E assim, Zé de Nadir não tomava como ofensa o que podia não ser ofensa. Dava tempo ao tempo, deixava a água correr solta e ia observando a espuma-se fosse com ele, cedo ou tarde saberia. Foi por isso que aquele jeito de Quitéria, diferente do habitual, não o preocupou muito.
– Fico sim, Quitéria. Obrigado! Você sabe que nunca resisto a sua comida: seu tempero é especial de bom.

Quitéria gostou de ouvir isso; gostou mais ainda porque quem estava falando era o Zé de Nadir. Ela se lembrou de uma vez que havia lhe servido um café e lhe perguntou se estava bom. Ele respondeu que sim, mas que preferia o café um pouco mais forte. Então? Se ele estava falando que gostava do tempero do jeito que ela fazia-ora, é porque ele gostava do tempero do jeito que ela fazia!

Éééé; Zé de Nadir não era uma pessoa difícil de lidar, se a gente entendesse o jeito dele. Na verdade, agora que ela pensava nisso, Zé de Nadir era até mesmo mais fácil de lidar do que a maioria das pessoas, que quase nunca falam o que querem, o que gostam, e a gente tem que ficar adivinhando; trabalheira besta!

– Então eu vou pegar um franguinho no terreiro para fazer um molho pardo que acho que o senhor vai gostar muito.

– Bobagem, Quitéria. Precisa ir buscar o frango, não. É frango de casa, não é? Então! Chama ele, que ele mesmo vem para cá
. – Ô, tio. Lá vem o senhor de novo com as suas idéias… – respondeu Quitéria que, naquele dia, não estava lá muito paciente com novidades. Zé de Nadir riu uma risada gostosa, daquelas que só sabe dar que sabe também chorar de vez em quando. Não falou nada. Foi até a beira do fogão, tirou com uma colher um pouco de angu, foi para a porta do terreiro e chamou:

– Pruu, tchiu, tchiu; pruuuu, tchiu, tchiu, tchiu…! – Na mesma hora, a galinhada veio toda correndo para a porta. Zé de Nadir jogou uma bolinha de angu para elas e, picando o resto nas mãos, fez um caminhozinho de bolinhas de angu. Logo, logo, tinha três ou quatro frangotes no chão da cozinha.
– Algum desses serve, Quitéria? – perguntou-lhe o tio Zé.
– Aquele ali, o de pescoço pelado, está bom, tio. – respondeu Quitéria, que estava entretida, porque nunca havia pensado naquele jeito esquisito de pegar frango.

Zé de Nadir, que já havia fechado a porta que dava da cozinha para a sala, fechou a porta do quintal, enquanto não parava de jogar umas bolinhas de angu para entreter os frangos que ficaram presos na cozinha. Pegou um balaio, segurou uma das beiradas dele com uma mão e o emborcou, com a outra beirada apoiada no chão. Continuou jogando bolinhas de angu, fazendo um caminho para debaixo do balaio. Quando todos os quatro frangotes estavam lá, vupt!, ele deixou cair o balaio.

“Cocoricó” para cá, “cocoricó” para lá-mas já era tarde. Zé de Nadir enfiou a mão por baixo do balaio e deu sorte: o primeiro frangote que pegou era o do pescoço pelado, que foi triunfantemente entregue nas mãos de Quitéria.

Zé de Nadir, como já lhes contei, não era estudado. O que o tio Zé da Quitéria sabia fazer muito bem, era olhar para as coisas e para as pessoas e ver, porque tem gente que olha, mas não vê. Não era só olhar só assim, com os olhos da cara, não! Parecia que ele olhava com o corpo todo: atento que nem uma garça quando vê o peixe na água. De tanto olhar e ver, “Seu” Zé, tio Zé ou Zé de Nadir, que afinal é uma pessoa só, começou a falar para ele mesmo de um jeito pouco comum. Ele não ficava pensando se fulano era assim ou assado, se ele fazia isso ou aquilo porque gostava ou porque queria.

Talvez por lidar com a criação desde pequenininho, com bichos, que não falam com a boca e nem são assim ou assado – ou, se são, o povo não diz por seguro que são e nem a gente pode saber ao certo; e que se gostam ou se querem alguma coisa a gente também não sabe ao certo, porque só de ver não dá para saber o que acontece ou não dentro deles – o que Zé de Nadir fazia era ficar observando, vendo o que acontecia no mundo a cada vez, antes que as galinhas corressem para um lugar só, que nem um bando formigas em correição. Observava o que estava acontecendo no mundo antes de cada vez que um cavalo refugava um salto, antes de cada vez que um boi ameaçava dar uma chifrada. Era simples assim! Zé de Nadir olhava, via, observava e aprendia. Por exemplo, toda vez que se jogava comida numa direção, a galinhada toda corria para aquele lugar. Talvez elas quisessem, talvez elas gostassem; isso não se pode saber, pois, afinal, quem é que já entrou dentro de uma galinha para ver o que ela gosta ou quer? O que o Zé de Nadir sabia ao certo era que, ao cair da tarde, era preciso que a galinhada entrasse no galinheiro. Isso era bom para o Zé, porque assim os gambás e as raposas não comiam as suas galinhas. Assim, quando Zé de Nadir queria que as galinhas entrassem no galinheiro, ora, ele jogava a comida lá dentro e depois fechava a porta e pronto! Dava certo e por isso o Zé de Nadir fazia isso sempre. Ficar tocando as galinhas, gritando “chô!, chô!” era muito mais complicado, demorava mais e, na maioria das vezes, aluga mas galinhas burras acabavam fugindo para o mato, o que dava mais trabalho ainda. Melhor mesmo jogar a comida o lugar que ele queria que
elas fossem.
E quando um boi ameaçava dar uma cabeçada? Ah, alguma coisa acontecia antes, alguma coisa que assustava ou ameaçava o boi. Se essa coisa que assustava o boi pudesse ser evitada, talvez o boi não desse mais cabeçadas, pensava Zé de Nadir. Se dava certo com todas as outras coisas que podiam assustar um boi, Zé de Nadir não sabia, mas ele passou a chegar mansinho, sempre que ia recolher os bois. Já de longe, começava a cantar o aboio, aqueles cantos sem palavras, mas que pareciam acalmar os bois: – Ôôôô-ei boi-chum, chum, chuuum!”.

Cantava suave, espichando os sons, meloso. Como a estória da comida dava certo com as galinhas, Zé de Nadir pensou que talvez desse certo também com os bois e por isso sempre levava um pouco de sal ou um punhado de milho no bolso. Tirava o sal do embornal e, enquanto ia chegando devagar e cantando o aboio, acenava delicadamente a mão, com o sal ou o milho na palma aberta, na direção do boi. E não é que o danado vinha? Vinha bonito, sem dar cabeçada nem nada. Nem sempre dava certo, é verdade. Mas dava mais certo do que dava errado e por isso Zé
de Nadir continuava fazendo isso.

Voltemos à cozinha de Quitéria. Mal havia acabado de passar o frango para a sobrinha quando Zé de Nadir ouviu o raspar suave das patas do Pastéis, arranhando a porta do terreiro. Pastéis era um cachorrinho viralatas que, um dia, chegou em casa
seguindo o Aleluia.

Aleluia e seus amigos estavam num dos papos de fim de serviço, comendo pastéis como tira-gosto e forra barriga, quando aquele cachorrinho, magrelo e assustado, aproximou-se da mesa para lamber os farelos que haviam caído no chão.

Já lhes disse que Aleluia era um homem bom. Ele não vacilou: tirou um pedaço do pastel que estava comendo e deu para o cãozinho que, faminto como estava, o devorou de uma só vez.

– Pouco para mim, pouco para ele! – pensou Aleluia. Com o trocado que lhe sobrara do leite que comprara para levar para casa, comprou um pastel inteirinho só para o cachorrinho. Isso foi o quanto bastou para que o cachorrinho o acompanhasse, quando finalmente Aleluia se levantou para ir para casa. E não houve xingamento ou ameaça que o fizesse desistir. Cada vez que Aleluia se virava e numa raiva fingida batia o pé para afastar o cãozinho, o cãozinho dava uma paradinha-ficava olhando meio duvidoso-e recomeçava a acompanhar o Aleluia. Não teve jeito. Quando Aleluia acordou no dia seguinte, lá estava o Pastéis, dormindo enrolado na soleira da porta da sua casa e tiritando de frio. Isso foi demais para o Aleluia! Mesmo com medo da reação de Quitéria, Aleluia foi pé ante pé até a cozinha, pegou um bom naco de angu, pôs numa folha de bananeira e levou para o Pastéis. Pensava em lhe dar o café da manhã e, logo depois, ver se arrumava um bom dono para ele.

Pensava! Nesse meio tempo, Renato e Rubens, seus filhos, vieram ver o que o pai fazia e o encontro deles com o Pastéis foi o início de um amor para o resto da vida, que nem mesmo o azedume de Quitéria, que resmungou alguma coisa sobre “vagabundo atrair vagabundo”, foi poderoso o bastante para impedir. Ficou então combinado que as crianças poderiam ficar com o Pastéis, mas só se eles mesmos cuidassem dele.

– E ele que fique morando no paiol, se quiser. – disse Quitéria, severa como sempre. – Por tudo o que é mais sagrado, eu NÃO ADMITO cachorro vagabundo dentro da minha casa! – falou, enquanto o seu olhar fulminante procurava o Aleluia, que nessa altura já estava meio encolhido num canto da sala, na esperança secreta de ficar invisível enquanto a patroa e os meninos resolvessem o problema lá entre eles.

Quando o pai contou a história do encontro, ninguém teve dúvida: o cachorrinho
iria se chamar Pastéis.

Pastéis ficava sempre fora de casa, como combinado, mas havia duas ocasiões em que essa regra podia ser desobedecida sem maiores riscos:
a primeira, quando Quitéria estava com evidente bom humor. Nesses raros dias, Aleluia costumava ficar na cozinha, sentado no banquinho de madeira perto do fogão, olhando a sua Quitéria vivendo – como ele gostava disso! Era então permitido ao Pastéis entrar na cozinha e enroscar-se aos pés de Aleluia. A segunda, era por ocasião das visitas do tio Zé.

Zé de Nadir tinha mesmo um jeito especial com criação e, para lhes provar isso, conto uma história. Pastéis tinha uma mania danada de chata: tentava lamber a mão dos amigos. Coisa de cachorro, vocês sabem como é. Até mesmo o Aleluia já tinha passado vários pitos e dado mais de uma cocada no Pastéis por causa disso. Quitéria, afinal, não devia ser amiga no entender do Pastéis. Ele só tentou lamber a mão dela uma vez. Foi uma tapona no focinho que nunca mais, para orgulho de Quitéria, que julgava saber lidar com bicho e com gente.

Pastéis lambia a mão de todo mundo que era amigo, menos a do Zé de Nadir. Não que tivesse sido assim desde o começo. O que aconteceu desde o começo foi que o Pastéis se tomou de amores pelo tio Zé, coisa bastante impressionante, porque o tio Zé nem mesmo festa para ele fez, quando o conheceu. Simplesmente chegou, como era do seu costume e,
quando estava parado na soleira da porta da cozinha, viu o cachorrinho que, avançando e recuando, tentava se aproximar dele. Não fez nada. Ficou ali-parado.

Com o tempo, Pastéis acabou sendo vencido pela curiosidade. Aproximou-se e cheirou a barra da calça do tio Zé. Foi só aí então que o tio Zé olhou mesmo para o Pastéis e lhe esfregou a cabeça. Mais nada. A partir desse dia, era o tio Zé chegar, era o Pastéis se aproximar. Quitéria, por severa e correta que fosse, também respeitava o tio Zé e, se o Pastéis podia às vezes ficar na cozinha, perto do Aleluia, ora, podia também ficar lá perto do tio Zé.

E lá ficavam, o Pastéis e o tio Zé, lado a lado. Com a amizade crescendo, tio Zé ficava lá na cozinha, sentado, olhando, vendo, conversando e quase sempre deixava a mão cair e coçava a orelha do Pastéis, roçava sua cabeça. Era evidente a alegria do Pastéis! E, acreditem, o Pastéis não tentava lamber a mão do tio Zé nem uma vez! Pois é; tenho que repetir: Zé de Nadir era mesmo danado de observador. Vocês já sabem da história de como ele achou um jeito diferente de lidar com as galinhas e os bois. Bem, talvez não um jeito diferente, porque outras pessoas também faziam isso. Mas a maioria fazia isso porque dava certo. Só por isso.

Que eu saiba, nenhum deles tinha pensado sobre isso do jeito que Zé de Nadir havia pensado. Ora, se pensar é falar com a gente mesmo, então o que Zé de Nadir sabia era falar sobre aquilo que fazia. Cada vez que uma situação parecida com aquela acontecia, Zé de Nadir se lembrava e tentava falar sobre ela do mesmo jeito. Experimentava. Funcionava quase sempre.

Assim, Zé de Nadir não precisava ficar aprendendo primeiro como lidar com galinhas, depois como lidar com bois, depois como lidar com cavalos, um de cada vez e como se uma coisa não tivesse nada a ver com a outra. Ele podia passar de uma coisa que dava certo com um, direto para o outro, ganhando tempo.

Zé de Nadir já havia aprendido que algumas coisas que acontecem no mundo antes de algumas outras coisas podem até mesmo servir para a gente saber se a outra coisa vai acontecer. Se cada vez que um bichinho voa na direção do rosto da gente, a gente pisca o olho, então, se eu vejo um bichinho voado na direção do rosto de um amigo meu, eu posso quase apostar que ele vai piscar o olho. Mais até do que isso: e se eu quiser que ele pisque o olho? Fácil: pego um pedacinho de papel e sopro na direção do rosto dele: ele pisca o olho!

Mas e o que acontece depois que alguém faz alguma coisa? Faz diferença? Assim: eu jogo a comida para as galinhas. Isso é o antes. As galinhas correm na direção da comida, isso é o “ do meio”, aquilo que as galinhas fazem. E o que acontece depois? Ora, as galinhas comem a comida. E se eu jogasse uma coisa que elas não pudessem comer? O que aconteceria?

É claro, vocês já adivinharam! Danado de ativo, Zé de Nadir tratou de fazer uma experiência, que não é coisa só para cientista, não; é coisa para qualquer um que não fica só repetindo o que aprendeu: gente que é inteligente. Ele então trocou os grãos de milho por pedrinhas do mesmo tamanho e quase da mesma cor. Tendo feito isso, ele chegava e fazia o antes igualzinho como se fosse jogar o milho, mas jogava as pedrinhas.

E adiantava? No começo sim. Toda vez que ele jogava as pedrinhas, lá ia a galinhada em disparada na direção delas. Algumas até mesmo tentavam bicar as pedrinhas. E de outra vez: a mesma coisa. E de outra. E ainda de outra. E de muitas outras. Mas, Zé de Nadir observou, já não eram mais todas as galinhas que saiam correndo. Umas, sim, saiam correndo sempre. Mas uma parte delas, depois de muitas pedrinhas jogadas, já não corria mais. Até que iam, mas parecia que iam mais para conferir do que pondo fé-

Zé de Nadir insistiu nisso. Estava curioso. Queria saber por quanto tempo as galinhas poderiam ser enganadas. Zé de Nadir descobriu que elas podiam ser enganadas por um bom tempo, mas não todas elas e nem o tempo todo. Já no finalzinho da experiência, quase galinha nenhuma caia mais nessa esparrela, pelo menos não quando era ele quem jogava as pedrinhas-

Mas vejam a novidade da experiência: Zé de Nadir já havia descoberto que certas coisas que acontecem no mundo antes fazem diferença para o que as galinhas fazem ou deixam de fazer, o do meio. Ele já sabia que jogar o milho fazia com que as galinhas corressem na direção em que eles caíam. Então, o antes influenciava o do meio, o que as galinhas faziam.

Mas quando ele começou a se perguntar sobre o depois, se o que acontecia depois do meio tinha também alguma influência no do meio, uma coisa engraçada aconteceu: ele fez o antes igualzinho como sempre fazia e esse antes passou a não dar mais o mesmo resultado. Será que era porque o depois era diferente: no lugar de comida, as galinhas encontravam pedrinhas? Então, o que as galinhas faziam, o do meio, podia mudar, conforme o que acontecesse antes e também conforme o que acontecesse depois?

Só tinha um jeito de saber: Zé de Nadir voltou a jogar o milho! E não é que bem mais depressa do que haviam parado e correr na direção da “comida” falsa elas voltaram a correr na direção da comida verdadeira?! E nisso tudo ele não tinha mudado o antes. Só mudou o depois e isso fez diferença: o do meio também mudava, quando o depois mudava!

A partir daí, é claro que se Zé de Nadir já estava atento ao que acontecia antes, ficou também muito atento ao que acontecia depois que alguém fazia alguma coisa.

Alguém: bicho ou gente! Zé de Nadir sabia, é claro, que bicho é bicho e que gente é gente. Mas que diacho, porque o que funcionava com um tinha que não funcionar com o outro? Como se fosse uma espécie de obrigação? Bem, é claro que gente e bicho não são iguais. Mas são tão desiguais assim? Tem muita coisa que eles fazem até de maneira diferente da gente, mas no fundo fazem como a gente faz: por exemplo, comem, dormem, correm, gritam quando se machucam, saram quando tomam algum remédio-será?!

Sabido Zé de Nadir era, mas ele era também muito humilde: queria aprender mais. Por isso, ele começou a fazer algumas experiências e viu que, em muitas delas, bicho e gente não eram assim tão diferentes.

Por exemplo, quando a sobrinhada dele ia visitar o sítio, Zé de Nadir costumava por a mesa do café e gritar para a meninada que estava brincando no terreiro: – Hora da bóia, geeente!!!
– e não era que a meninada vinha correndo para dentro que nem as galinhas?! Éééé; pelo menos nisso não pareciam ser assim tão diferentes –

Pastéis! Como tudo indicava que o Pastéis desde logo incluiu o tio Zé na lista dos seus amigos, é claro que ele tentou lamber a mão do Zé de Nadir. E foi aí que a diferença mais uma vez apareceu.
Zé de Nadir já havia observado a luta do povo da casa com as lambidas do Pastéis. Já tinha visto que os xingamentos e as cocadas na cabeça adiantavam sim, mas só por algum tempo. Já tinha visto isso acontecer com o Pastéis e em muitas outras situações. Por exemplo, Zé de Nadir se lembrava que o seu pai sempre brigava com ele porque ele não gostava de estudar. Quando o pai brigava com ele, por um ou dois dias até que ele se sentava lá com o livrinho na mão, fazia umas garatujas no caderno, ficava mais quieto. Mas só por alguns dias. Era só pai se esquecer de ficar de cima dele que ele também se esquecia de estudar e, com pouco tempo, lá estava ele de novo, mexendo com a criação no lugar de fazer o dever da escola! E de muitos outros exemplos Zé de Nadir se lembrou.

– Éééé; – falava consigo mesmo o Zé de Nadir. – pancada, xingamento e bom conselho são tudo o que todo mundo costuma ganhar quando faz alguma coisa errada! Se pancada, xingamento e bom conselho fossem bons para mudar o mundo, o mundo então já não devia estar mudado? Não era esse o remédio que vinha sendo distribuído com tanta fartura desde que o mundo era mundo? Não era esse o depois que acontecia quando alguém errava? Então? Porque o mundo continuava tão difícil?
Por que a gente continuava a fazer coisas que machucavam pessoas que na maior parte das vezes a gente não queria machucar? Por que a gente continuava a fazer coisas que sabia que não devia, que até mesmo não queria e ainda assim fazia? Por
falta de pancada, xingamento e bom conselho é que não é!

Zé de Nadir pensou então que se ele fizesse igual aos outros, dando pancada, xingamento e bom conselho embora ele acreditasse que não ia ter jeito de dar bom conselho para um cachorro porque haveria ele de obter resultados diferentes dos outros? O mais certo é que tudo ia ficar que nem o que acontecia com os outros: lambida, cocada; passa um pouquinho de tempo, é lá vem tudo de novo: lambida, cocada-lambida, cocada, um tico de tempo e mais lambida e cocada-sem parar-

Zé de Nadir resolveu então fazer diferente. Quem sabe se ele pudesse mudar o antes e o depois, o do meio ficava diferente? O do meio, aquilo que o outro faz e que a gente preferiria que mudasse, a lambida do Pastéis. Quem sabe? E se não desse para mudar o antes, quem sabe se então ele mudasse somente o depois ainda assim o do meio mudaria?

Quando o Pastéis tentou a sua primeira lambida, Zé de Nadir não fez nada: não xingou, não bateu. Somente tirou a mão de perto da cara do Pastéis e ficou de olho. Passado um pouquinho, Pastéis desistiu de ficar com a cabeça levantada e a pôs entre as patinhas. Zé de Nadir então baixou de novo a sua mão e fez um agrado na cabeça do cachorrinho.
Pastéis tentou outra lambida. Zé de Nadir tirou de novo a mão e deu um tempo nem ligando para o Pastéis. Quando novamente o Pastéis ficou quieto, Zé de Nadir baixou de novo as mãos e deu um agrado nas orelhas do Pastéis. Mais uma tentativa de lambida, mais uma retirada da mão. E assim foi. Uma, duas, dez vezes! Se o jogo era de paciência, Zé de Nadir tinha boas chances de ganhar! O que Zé de Nadir fez foi só isso: só fazia carinho no Pastéis quando ele passava um tempo sem tentar lamber a sua mão e quando ele estava fazendo alguma coisa que não incomodava.
O que aconteceu? Cada vez menos o Pastéis tentava lamber a mão do Zé de Nadir. Cada vez mais ele ficava quietinho, só aproveitando do carinho. E isso foi-foi-até que, depois de algum tempo o Pastéis nem mesmo tentava lamber a mão do Zé de Nadir.

Ahá! Vejo que alguns de vocês parecem estar duvidando desse fazer diferente! Está certo: quando uma coisa nova aparece, a gente fica mesmo sem saber ao certo se pega ou se larga. Mas existe uma saída: faço um desafio a vocês! Não acreditem mesmo nisso: experimentem vocês mesmos e depois me contem.

Afinal, para saber se um bolo é mesmo bom, só tem um jeito: provar um pedaço dele, não é mesmo? Fazer a prova! Quem fizer a prova, saberá. Quem não fizer-bem, quem não fizer não vai ter como saber, não é mesmo? Vai poder é só ficar discutindo num sem fim: será que sim, será que não-será que não, será que sim?

Meus amigos, essa vida pode ser muito engraçada! Tem dias em que a gente se levanta de manhã e é tudo igualzinho a qualquer outro dia: o mesmo sol, a mesma sensação da água fria no rosto, o mesmo gosto do primeiro cafezinho. E aí, sem mais nem menos, BUM!, tudo muda. Cai a panela no pé da gente e lá vamos nós, não mais para o trabalho ou para a escola, mas para o médico! E quando, às vezes, a gente chega perto de uma amigo e diz para ele, como sempre diz: “Fulano, tudo bem com você?” E aí ele cai num chororô de dar dó, de cortar o coração? Pois é; uma coisinha de nada, um preguinho mais besta que se solta numa escada -e tudo muda da água para o vinho, do fogo para o gelo.

Não é que foi a danada da lambida do Pastéis, lambida que por sinal nem aconteceu, que foi o BUM! Da Quitéria naquele dia? Tudo muito igual: tio Zé chega, tio Zé senta. Pastéis entra, Pastéis se enrosca aos pés do tio Zé. tio Zé baixa a mão, tio Zé esfrega a cabeça do Pastéis e o Pastéis nem tentou lamber a mão do tio Zé.

Foi só isso o que a Quitéria viu. Coisa que já havia visto antes, muitas e muitas vezes. Mas, sejamos justos, nunca havia visto aquilo com a mesma quantidade de raiva que ela estava sentindo naquele dia e naquela hora. E então…BUM!

Quitéria explodiu! A primeira coisa que Quitéria sentiu foi um fogo subindo do peito para a cabeça. A cabeça inchou, parecia. A vista turvou: Quitéria viu tudo vermelho. Ela nem mesmo percebeu que havia cambaleado na beira do fogão e que agora estava sentada no banquinho, ao lado do tio Zé. Nem percebeu que estava tremendo, nem percebeu que estava chorando até ouvir um barulho estranho. Com esforço, descobriu que o barulho era o do seu choro e que a água que pingava nas suas mãos era a das suas lágrimas.

Foi a custo que Quitéria se deu conta de que o tio Zé havia passado o braço nos ombros dela e que ela, com a sua cabeça apoiada nos ombros do tio, chorava com o abandono e a inocência de uma criança. Fundo… sentido! Foram só alguns instantes, mas, para a Quitéria, duraram uma vida!
– Por que, por que, POR QUE, meu Deus? – se perguntava ela – Por que comigo, que sou tão correta, tão direita, que faço tudo tão direitinho, que nunca deixei uma obrigação minha por cumprir? Por que até o raio desse cachorro não chega perto de
mim e, da única vez que chegou, quis me lamber? Por que todo mundo corre para ver o tio Zé quando ele chega, até essa droga de cachorro? E por que essa droga de cachorro pelo menos não TENTA lamber as mãos dele?!!!

E enquanto Quitéria achava que estava “pensando isso”, ela estava falando isso! Falando mesmo, em voz
alta. Isso e muito mais. Como numa enxurrada de chuva forte, Quitéria estava falando da sua tristeza com o Aleluia. Contando suas raivas, suas tentativas de mudar aquele comportamento do Aleluia que tanto a desagradava, do medo que tinha de viver outra vez o que a sua mãe vivera, de que os seus filhos sofressem o que ela sofrera!

Zé de Nadir já havia lidado com chifradas de boi assustado, lembram-se? Quietinho, ele ficava só esfregando o ombro de sua sobrinha, suave, amigo. E quando a torrente virou um riozinho fraco, ele começou a fazer o seu aboio: – Shhh! Chora, Quita, que isso é bom…o choro é o banho da alma-shhhh.- E assim ia: sons sem sentido, palavras amigas, licença para sofrer, licença para doer –

Como toda enxurrada, esta também aos poucos foi se acalmando -acalmando-até virar um riachinho manso, onde a água continuava a correr, mas a correr sem pressa -só correndo, assim por correr . Foi aí que o tio Zé começou a falar. Tão manso quanto antes, mas, agora, uma firmeza nova estava nas suas palavras, no tom da sua voz. Tudo tendo ouvido, pensando no antes, no do meio e no depois, tio Zé falava.

Ninguém ali era boi ou galinha. Era gente e gente que ele amava e ele sabia disso. Mas sabia também que o
que ele sabia com a força da experiência era o melhor que ele podia oferecer. O antes, o do meio e o depois. O antes, o do meio e o depois…

O antes…! Aleluia cansado do trabalho. Aleluia saindo com os amigos, a conversa amiga, a camaradagem. A passagem em frente ao boteco. A cara amiga do Cuca, o dono do boteco, sorrindo de gosto.

O do meio…! A parada no balcão para o papo sem compromisso e um trago da “branca. Só um traguinho. Tão bom, tão gostoso.

Aleluia vai para casa. O frio na barriga aumenta. Tão diferente de estar lá no bar do Cuca com os amigos…! Aleluia chega em casa: o frio na barriga aperta. Vontade de não estar ali, vontade de ter ficado mais algum tempo com os amigos, onde estava tão bom! Aleluia vai para a cama. Deita-se.

O depois…! Quitéria vira para o outro lado. aleluia se aperta na beiradinha dele, dorme incomodado. Acorda. PAF! PUM! PAM! Aleluia nem tem ânimo para se levantar. Melhor ficar ali mesmo. Mas se levanta. Quitéria está na cozinha. Aleluia fica na sala Quitéria vai para a sala. Aleluia entra na cozinha. Quitéria volta para cozinha. Aleluia vai para o terreiro, dá a volta, entra pela sala, pega as suas ferramentas e sai de fininho para o trabalho.

E um outro antes: Aleluia chega ao trabalho. Meio macambúzio, meio calado. Um colega brinca, o outro responde. Outro brinca, e o outro, e o outro. Aos poucos, Aleluia começa também a brincar. Aos poucos esquece. Aos poucos vai ficando alegre, o ânimo volta. Até a hora do fim do serviço. Voltar para casa-ver a Quitéria de cara amarrada-nem uma palavra! Comida fria na mesa -enfrentar isso tudo-

Aleluia cansado do trabalho. Aleluia saindo com os amigos, a conversa amiga, a camaradagem. A passagem em frente ao boteco. A cara amiga do Cuca, o dono do boteco, sorrindo de gosto. A parada no balcão para o papo sem compromisso e para um trago da branca. Só um traguinho. Tão bom, tão gostoso.

Aleluia vai para casa. O frio na barriga aumenta. Tão diferente de estar lá no bar do Cuca com os amigos…! Aleluia chega em casa: o frio na barriga aperta. Vontade de não estar ali, vontade de ter ficado mais algum tempo com os amigos, onde estava tão bom! Aleluia vai para a cama. Deita-se. Quitéria vira para o outro lado…

– Quita? Quitéria!

– Fong? Buuu, huuu!

– Quitéria, minha filha, me escuta um pouquinho.

– Fong?

– Se você quer mudar alguma coisa, qual é a primeira coisa que você precisa
fazer?

– Buuu, huuuu, snifff?

– Eu te digo: a primeira coisa que você precisa fazer é mudar o seu comportamento, aquilo que você está fazendo. Imagine, por exemplo, que uma bola está vindo rolando em direção ao seu vaso de flores, que está no chão. Você quer mudar a direção da bola, senão ela vai bater no seu vaso. O que você precisa fazer? Você, Quitéria, tem primeiro que mudar o seu comportamento. Se você estiver sentada, vai ter que levantar para tocar nela, para mudar a direção dela. No mínimo, vai ter que jogar alguma coisa nela, bater nela com um pau, uma vassoura, sei lá. Mas de um jeito ou de outro, você vai ter que mudar primeiro, porque senão a coisa provavelmente não vai mudar, a não ser por acaso ou por outras razões. Mas, às vezes, você não vai poder apostar nesse acaso, não é mesmo? Pode não dar tempo…
– Sniff?

– É sim, Quitéria. Sozinha é que a bola não vai mudar de direção, principalmente se estiver indo para baixo, não é?
– O que, tio?

– Isso que eu estou falando, Quitéria.

Pense um pouco comigo: toda vez que o Aleluia chega meio alto, o que acontece? Sempre a mesma coisa: você briga com ele, põe ele de castigo, modo de dizer. Está adiantando?

– Ele – buuu – fica um tempão sem – sniff – fazer isso de novo – huuu!

– Fica. Você disse. Mas volta a fazer, não é? Pode demorar, mas volta!

É só tudo voltar ao normal, é só ele esquecer que ele faz de novo, não é?

– É, mas…

– Quitéria, isso não está adiantando muito, não é? Atrasa o problema, mas não está resolvendo, não é? Pois bem: vou lhe dizer agora um segundo segredo que aprendi. Funciona com gente ou bicho, pode experimentar. A segunda coisa que você precisa fazer quando você quer mudar o comportamento de um vivente que tem o poder de ir e vir por si mesmo, é que ele “goste” de ficar perto de você não é? Com ele longe de você, com medo de você, fica tudo mais difícil, não é mesmo?

– Mas eu NÃO ADMITO…

– Quitéria, filha, você pode não admitir o que você quiser. Isso não vai mudar o mundo. Você não admite que o Aleluia dê lá suas fugidas de vez em quando. Bem, ele continua dando, não é? Você não admite que o Rubens saia para o terreiro na hora do almoço, mas ele continua saindo, não é? Você pode não admitir o que quiser, mas se você não fizer diferente, as coisas provavelmente vão continuar do mesmo jeito: você não admitindo e as coisas acontecendo… – Mas, tio, minha mãe…

– Não, Quitéria, agora escute: sua mãe é sua mãe, seu pai é seu pai, você é você e o Aleluia é o Aleluia. Cada um é cada um. Cada um é parecido, mas é também diferente do outro. Além do mais, a casa da sua mãe não é a sua casa. Algumas coisas que você aprendeu lá vão dar certo também aqui. Mas só algumas coisas. Outras não, porque são pessoas diferentes, em lugares diferentes, num tempo diferente.

– Isso até que é verdade-mas, tio, eu já estou fazendo diferente da minha mãe e tudo fica se repetindo o tempo todo-

– Mas, filha, se você está repetindo sempre a mesma coisa a cada vez, não está claro que o que você está fazendo não é o melhor a ser feito? Mesmo que seja algo diferente daquilo que sua mãe fazia? E uma coisa lhe digo, Quitéria: vão continuar se
repetindo. Enquanto a gente fizer o que sempre fez, o mais certo é que vamos conseguir o que sempre conseguimos, não é? Como poderia ser de outro jeito? Como você poderia fazer um bolo exatamente do mesmo jeito que sempre fez, com as mesmas medidas, com o mesmo tempo no mesmo forno, na mesma temperatura, e querer que o bolo fique diferente? Não vai ficar diferente: não pode! Se você quiser um bolo diferente, de gosto diferente, vai ter que fazer o bolo de um jeito diferente, não concorda?
– Tio, mas o Aleluia…

– Ele está com medo de você, Quitéria.

Está fugindo de você. Você já parou para pensar nisso? Já parou para pensar que aqui, na casa dele, as coisas estão ficando ruins para ele? Já parou para pensar que quando ele está com os amigos dele, não tem ninguém de cara feia? Que com eles ele se diverte, ele se sente bem?

– Isso é porque é tudo igual, uma cambada de…

– Xinga, Quita. Xinga, se isso te faz bem. Agora, se xingar vai mudar as coisas, sei não! Você já está xingando há tanto tempo e as coisas não mudaram muito, não é? Quitéria, você pode não gostar dos amigos dele, pode chamar eles pelos nomes que quiser. Pode até ter razão. Mas isso não muda o fato de que, para ele, o Aleluia, é gostoso ficar na companhia deles. Senão, ele não ficava, não é mesmo?

– Ah! Então, bem que a Dona Geni disse que má companhia não existe para quem está naquela companhia; ele é que não presta, andorinha-

– Não voa com pardal, não foi isso o que ela disse? Mais ou menos. Voa e não voa. Depende do que a andorinha e o pardal têm para fazer, no lugar de ficar voando juntos. No seu caso, está difícil. Quando ele está voando com o bando, fica tudo bem. Quando ele pousa no ninho, fica tudo ruim. O que você acha que ele vai preferir fazer? – Tio, o que o senhor está querendo dizer? Que eu devo passar a mão na cabeça dele a cada vez que ele aprontar alguma?

– Não, Quitéria. O que eu estou querendo dizer é que você devia, sim, passar a mão na cabeça dele cada vez que ele NÃO estiver aprontando. Por exemplo, ele aprontou hoje. Então…

– Santo Pai! Era isso que minha mãe fazia. Ela sempre carinhava o meu pai, sempre; chegasse ele bêbado ou não!

– Ah! Pois é; o que uma fazia de mais, parece que a outra está fazendo de menos. Mas, então, vamos voltar ao fazer diferente: se ele aprontou hoje, você não passa a mão na cabeça dele de jeito nenhum! Mas, amanhã ou depois de amanhã, ele vai
chegar na hora, vai chegar sem ter bebido. E aí, quando ele chega fazendo
exatamente aquilo que você quer que ele faça, o que ele consegue? Cara feia, resmungo, comida fria. Quando ele sai com os amigos, o que ele consegue? Diversão, brincadeira, alegria. Do jeito que as coisas estão cá e lá, você não acha que ele vai fazer isso de novo, nem que seja só de vez em quanto?

– Mas, tio, eu sempre aprendi que fazer direito não é mais do que a obrigação

Inpa – Instituto de Psicologia Aplicada, Asa Sul, Brasília – DF, Brasil.

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